segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O cientista político e professor de Comunicação da UFJF, Paulo Roberto Figueira, faz uma análise dos resultados das eleições 2010 e diz o que espera do governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT)

Karen Abreu, Natasha Terra e Suellen Passarelli

O jornalista e cientista político Paulo Roberto Figueira, que é professor do curso de Mestrado em Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), faz uma análise sobre o resultado das eleições 2010. Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Figueira fez mestrado e doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário do Rio de Janeiro (Iuperj). Hoje, atua tanto na graduação como no mestrado em Comunicação Social da UFJF, onde desenvolve pesquisas sobre a interface comunicação e política.
Nesta entrevista, Figueira, além de fazer análise sobre as eleições 2010, faz previsões sobre o futuro governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT). Estabelece um diagnóstico sobre a conjuntura política e a disputa de poder que poderá ser estabelecida entre os partidos da frente de apoio à Dilma e o PT, principalmente o PMDB que já articula a formação de um bloco no Congresso de 202 deputados. Sobre a vitória da candidata do PT, o cientista político afirma que pode ser entendida como uma decisão do eleitorado pela continuidade da atual política governamental do país.

Como avalia o resultado das eleições de 2010 tanto para a Presidência da República como para os governos estaduais e o Congresso Nacional?
Paulo Roberto Figueira: Essas foram eleições marcadas pelo viés da continuidade - em termos nacionais, os partidos do governo tiveram vitória tanto para o Executivo quanto nas duas casas do Congresso. Processo similar - vitória do campo que ocupava os governos de estado - ocorreu na esmagadora maioria das unidades federativas. O fenômeno está muito provavelmente associado ao bom momento econômico e social do país, que produz um estímulo eleitoral à continuidade, mais do que à ruptura.

Dilma Rousseff (PT), por ter ampla maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, terá mais tranquilidade para governar?
PF: O problema de Dilma será administrar o excesso de apoio (o que implica acomodar mais de 10 partidos no governo), e não com a escassez. A dificuldade de montagem do ministério, de modo a agradar a todos, é um indicativo disso. Administradas essas pressões, o governo conta com maioria folgada para aprovar suas mensagens nas duas casas do Congresso.

Como o senhor vê a vitória de Antônio Anastasia em Minas Gerais e a virada em relação a Hélio Costa? O PT em Minas está em crise?
PF: Além dessa tendência geral à continuidade, a vitória de Anastasia também se deu num ambiente de crise interna do PT (Patrus versus Pimentel) e, sobretudo, de pressão da direção nacional para não lançamento de candidatura própria e apoio a Hélio Costa. O acordo foi bom para Dilma, já que ajudou a consolidar o apoio nacional do PMDB, mas foi muito ruim para o PT, que tinha duas candidaturas mais competitivas do que a de Hélio Costa.

O Aécio Neves sai fortalecido e como um dos principais líderes da oposição. Pode ser visto como um dos candidatos mais fortes na disputa presidencial de 2010?
PF: Sim, mas não de modo automático. Alckmin teve também uma expressiva vitória em SP e não se pode esquecer que o PSDB é um partido cujo centro está lá.

O senhor acredita na volta de Lula em 2014 na disputa presidencial?
PF: Nessa altura, é prematuro afirmar qualquer coisa isso. Essa conversa vai depender do andamento do governo Dilma - se se insinuarem dificuldades de reeleição dela, talvez se considere a possibilidade de uma volta de Lula. Mas muitas variáveis, não antecipáveis agora, confluirão para esta decisão.

Como avalia a formação de um blocão de 202 deputados comandado pelo PMDB. É uma forma de pressionar a Dilma? Isso poderá criar problemas na governabilidade?
PF: É claramente para pressionar Dilma na composição do ministério, para garantir vantagens na discussão da presidência da Câmara e do Senado e para indicar que há, na base de apoio, um centro de viés conservador que não permitir que os segmentos mais à esquerda do governo imponham sua própria agenda sem negociações.

Como fica a oposição com a terceira derrota consecutiva? Qual o futuro do PSDB e dos Democratas, por exemplo?
PF: O PSDB só faz diminuir sua bancada de deputados federais desde 1998 (era quase 100 lá, são meros 53 hoje). O DEM vem sendo paulatinamente encolhido. Nesse cenário, as conversas sobre fusão indicam exatamente que a oposição precisa se repensar.

Na sua avaliação, quais os pontos positivos e negativos dos mandatos do presidente Lula?
PF: De positivo, certamente a herança da incorporação de milhões de brasileiros à classe média e a retirada de milhões de outros da situação de pobreza extrema - algo que se deu na confluência de políticas de transferência de renda, de aumento real do salário mínimo, de ampliação de investimentos públicos. De negativo, o não enfrentamento de questões candentes e relevantes, como a reforma política.

Quais os desafios para a presidente eleita Dilma Rousseff?
PF: Suceder, com sucesso, um presidente popularíssimo, sem ter o mesmo conjunto de habilidades políticas. E a premência de enfrentar a discussão de temas difíceis que não foram enfrentados por Lula.

Quanto à questão da mídia no Brasil, é possível esperar alguma mudança nos próximos anos?
PF: Desde 1989, uma parcela importante da grande mídia não tinha feito tão mau jornalismo numa campanha - negligenciou-se o contraditório, produziu-se uma cobertura enviesada, em alguns casos nem se escondeu a franca torcida por um dos lados. Inevitavelmente se discutirá, nos próximos anos, meios de impedir que concessões públicas de radiodifusão, por exemplo, sirvam a interesses políticos e econômicos sem que existam mecanismos de controle social.

Rômulo Viegas, eleito deputado estadual, declara que as portas do PSDB estão abertas para o prefeito Nivaldo Andrade

Em entrevista aos repórteres Alisson Reis e Marcos Paulo Andrade, do Blog Vertentes & Política, do curso de Jornalismo da UFSJ, no último dia 23 de novembro de 2010, o professor Rômulo Viegas (PSDB), eleito para mais um mandato na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, conta como foi a campanha, as dificuldades que enfrentou pela disputa acirrada e revela quais são as suas pretensões políticas. O deputado afirma que decidiu se lançar candidato a deputado estadual por contar com o apoio de 35 prefeitos mineiros e ter uma relação de amizade e confiança com o ex-governador Aécio Neves (PSDB) e com Andréia Neves. Questionado sobre a possibilidade de o atual prefeito da cidade, Nivaldo Andrade, sair do PMDB e ingressar no seu partido, Viegas ressalta que as portas estão abertas para o prefeito. “O PSDB é um partido que necessita ampliar o seu quadro político e, no caso específico, Nivaldo tem se mostrado um político de parcerias estratégicas. Ele foi muito leal às propostas do ex-governador Aécio Neves. As portas do PSDB estão abertas para ele”, declarou.

Blog Vertentes & Política - A disputa deste ano para a Assembleia Legislativa de Minas Gerais foi mais difícil que há quatro anos atrás?
Rômulo Viegas - O problema das campanhas para Assembleia são os candidatos que aparecem em nossos municípios natais somente em época de eleição e acabam por nos tirarem uma grande quantidade de votos. Reconheço que foi uma eleição bastante acirrada. Disputamos com a margem de 12 candidatos por vaga, já que foram 965 candidatos a deputado estadual por Minas Gerais para as 77 cadeiras do legislativo mineiro. Em São João del-Rei, fiquei muito triste com a distribuição de panfletos através dos quais zombavam da minha fé. Infelizmente ainda existem pessoas que precisam atacar os outros para tentar se exaltar.

Blog Vertentes & Política - Na sua opinião, o que foi decisivo para sua vitória?
Rômulo Viegas - Atribuo a vitória principalmente a minha trajetória política. Nestas eleições, especialmente para os cargos do Legislativo mineiro, ficou bem claro que os eleitores estão cansados das farras de corrupção. O eleitorado quer pessoas sérias e responsáveis como seus representantes no poder. O apoio de Aécio Neves e sua irmã Andréa Neves, juntamente com sua equipe, tem sido fundamental para a nossa vitória nas últimas disputas mineiras. Nossa relação política é consequência de uma amizade baseada na confiança mútua de muitos anos. Jamais entraria em uma disputa eleitoral sem o total apoio de Aécio. Pelo contrário, sempre entrei a convite dele.

Blog Vertentes & Política - Qual foi o grande motivo pelo qual o senhor resolveu tentar a reeleição a deputado estadual pela região do Campo das Vertentes?
Rômulo Viegas - A confiança das pessoas que acreditaram em mim, o apoio de 35 prefeitos do Estado e a confiança a mim depositada pelo senador Aécio Neves.

Blog Vertentes & Política - O apoio de Aécio Neves é realmente decisivo para a disputa de qualquer cargo político em Minas Gerais?
Rômulo Viegas - Aécio conquistou a confiança e o carinho dos mineiros, resultado de trabalho sério e competente. Minas mudou muito com Aécio, ele reestruturou todo um Estado para melhor atender as necessidades da população em todas as suas esferas e classes sociais.

Blog Vertentes & Política - Como o senhor avalia a postura de candidatos que fazem de tudo para ganhar as eleições, inclusive inventar padrinhos políticos, como foi o caso de candidatos a deputados em São João del-Rei que diziam ter o apoio de Aécio Neves?
Rômulo Viegas - Creio que cada um tem a sua forma de fazer política e vai arcar com as respectivas conseqüências. Alguns firmam suas propostas em mentiras, outros em verdades. O que importa é que compete aos eleitores escolher seus representantes.

Blog Vertentes & Política - Partindo da quantidade de votos que o senhor recebeu neste ano e já configurando as disputas municipais daqui a dois anos. O senhor pretende concorrer a prefeitura de São João del-Rei?
Rômulo Viegas - Não. Recebi o mandato de Deputado para trabalhar em prol de São João na Assembléia Legislativa, buscando recursos e benefícios estaduais para a cidade. Vou honrar as quase 60 mil pessoas que acreditaram em mim com um trabalho sério e íntegro na Assembleia Legislativa. Acredito que temos bons nomes para a disputa de 2012 em São João del-Rei.

Blog Vertentes & Política - Há especulações sobre a entrada de Nivaldo Andrade no PSDB. Como o senhor avalia esta possibilidade?
Rômulo Viegas - O PSDB é um partido que necessita ampliar o seu quadro político e, no caso específico, Nivaldo tem se mostrado um político de parcerias e estratégicas. Ele foi muito leal às propostas do ex-governador Aécio Neves. As portas do PSDB estão abertas para ele.

Blog Vertentes & Política - Quais projetos o senhor defende e promete para a região do Campo das Vertentes até 2014?
Rômulo Viegas – Nunca fui um homem de promessas, pois aprendi que nossas ações valem muito mais que promessas. Posso falar de algumas áreas e projetos que pretendo defender na ALMG. Uma área que sempre me acompanhou é a da Ação Social, a inserção do individuo na sociedade e no mercado de trabalho. Quero resgatar de forma genuína a cultura e o turismo na nossa região que é muito rica em histórias e artesanato. Pretendemos propor um grande projeto de ascensão do artesanato e agronegócio em São João del-Rei, Tiradentes, São Tiago, Santa Cruz de Minas, Nazareno, Coronel Xavier Chaves, Dores de Campos, Madre de Deus de Minas e Prados.
Na educação, vamos lutar para adequação do ensino de modo a fortalecer os cursos técnicos voltados para a tendência profissional regional, no local onde eles serão ministrados. Propor a inclusão de disciplina voltada para a ciência da moral, política e cidadania no ensino fundamental, de modo que os jovens passem a entender do respectivo assunto.  A atenção primária de qualidade a saúde é outro projeto que tenho como essencial para os meus municípios de apoio.

Blog Vertentes & Política - Todos temos grandes vitórias e decepções que marcam nossas vidas. Na sua carreira política, o que marcou sua memória?
Rômulo Viegas - Decepções, todos nós temos na vida e acredito que isso faz com que tenhamos mais serenidade no trato com as pessoas. Uma decepção específica foi a derrota na primeira tentativa como candidato a Deputado Estadual. O que mais me orgulha é que na política tive oportunidades de ajudar muitas pessoas e fazer muitas amizades. Agora, estou muito orgulhoso e feliz com essa vitória que alcancei me elegendo deputado estadual.

Blog Vertentes & Política - Que recado o senhor deixa para todos aqueles eleitores que estão descrentes quanto à honestidade e responsabilidade dos políticos que atuam por São João Del Rei e região?
Rômulo Viegas - O voto é a base da democracia e infelizmente a maioria das pessoas não o enxerga desta forma. Precisamos pesquisar em quem estamos depositando nosso voto, procurar saber os valores da pessoa, valores básicos, como o da família e da educação. A população deve se envolver mais com as ações políticas e cobrar de seus representantes. Cobrar um mandato honesto, íntegro e em prol do cidadão como um todo e não em prol de atendimentos particulares.

Blog Vertentes & Política - Como o eleitor pode acompanhar seu dia-a-dia de trabalho?
Rômulo Viegas - O eleitor poderá me acompanhar através das seguintes ferramentas: no Facebook: Rômulo Viegas; no twitter: @ROMULOVIEGAS; no orkut: Rômulo Viegas e em janeiro no site www.romuloviegas.com.br ; além da TV Assembléia que também pode ser sintonizada gratuitamente em São João del-Rei.



sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PMDB sai fortalecido das eleições e já articula bloco no Congresso para pressionar Dilma Rousseff

Ana Luiza Fernandes, Luis Gustavo Santos, Mariele Velloso e Violeta Cunha
                       
Se em Minas Gerais o resultado do primeiro turno da eleição foi frustrante para o PMDB com a derrota do candidato do partido, Hélio Costa, que teve 33% dos votos contra 62% de Antônio Anastasia (PSDB), no cenário nacional os peemedebistas mantêm a hegemonia por ser o partido com o maior número de eleitos. No Senado, o PMDB garantiu mais 16 vagas, mantendo a maior bancada com 19 senadores. Elegeu ainda,no primeiro turno, quatro governadores, e venceu o segundo turno em Roraima com 58.6% dos votos. No Congresso Nacional, o PMDB caiu de 89 para 79 deputados, perdendo a liderança para o PT que elegeu 88 deputados.0
            O PMDB garantiu ainda a vice-presidência da República, com a eleição no segundo turno de Dilma Rousseff (PT) que tem como vice Michel Temer, presidente nacional do partido. Com cerca de 2 milhões de filiados, é também o partido com maior representação nos municípios, tendo 1.201 prefeitos e 8.497 vereadores no país.
De olho na definição dos ministérios e cargos do futuro governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT), o PMDB já está articulando no Congresso Nacional um bloco com outros três partidos – PP, PR e PSC, que totalizam 202 deputados para garantir maior poder de negociação com a presidente eleita e com o PT e aliados no futuro governo. A formação do chamado “Blocão” foi criticada pelo PT, mas os peemedebistas alegam que é apenas uma forma de facilitar a formação do governo petista.
A estratégia do PMDB para o governo Dilma tem a ver com a trajetória do partido que da posição de partido oposicionista ao regime militar tornou-se uma agremiação sem identidade ideológica. Tem sido criticado por uma postura fisiologista em que busca formar alianças visando garantir cargos para as suas lideranças. Foi assim que fechou a negociação e indicou Temer para vice na chapa de Dilma Rousseff.
Desde o fim do regime militar de 1964, o PMDB detém o comando de pelo menos uma das casas do Congresso. Entre 1985 e 1993, presidiu simultaneamente a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, situação que volta a se repetir desde 2009 e permanece até hoje, com Michel Temer na Câmara e José Sarney no Senado.
Apesar da força e tradição, o partido nunca elegeu um presidente da república em eleições diretas. Em 1989, no primeiro pleito após a redemocratização, Ulysses Guimarães candidatou-se pelo PMDB, tinha o maior tempo no Horário Gratuito e amargou uma derrota, ficando em sétimo lugar. Em 1994, o peemedebista Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, entrou na disputa presidencial e teve menos votos que Enéas Carneiro, do extinto PRONA que conquistou o terceiro lugar com 7,38% dos votos contra 4,38% conquistado por Quércia.
A partir daí, o PMDB assume uma nova estratégia que tem garantido representação, poder e muitos cargos nos governos. Dando apoio aos partidos através de sua influência, negocia cargos importantes como ocorre hoje com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que o PMDB ocupa seis ministérios: Ministério da Integração Nacional, Ministério da Defesa, Ministério de Minas e Energia e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de estar no comando do Banco Central, órgão com status de ministério. Além disso, garante a nomeação de muitos filiados no segundo e terceiro escalão.
            Após o resultado do segundo turno, os presidentes do PMDB, Michel Temer, e do PT, José Eduardo Dutra entraram em acordo quanto a um rodízio entre as duas legendas para manter o comando na Casa. "Nós vamos firmar um documento pelo qual haverá um rodízio. O primeiro biênio de um partido, o segundo biênio de outro partido. Quem ocupará o primeiro ou segundo biênio, isso é coisa que vamos deixar lá para janeiro", disse Temer.
            Em âmbito estadual, a vitória esmagadora de Antonio Anastasia, candidato tucano, sobre Helio Costa, do PMDB, resultou na perda de mais uma cadeira de governador para o partido. Após o resultado, o candidato derrotado publicou nota em que dizia: “Como dissemos, Patrus e eu, na Carta ao Povo de Minas, o documento em que firmamos nosso compromisso de um governo verdadeiramente popular para Minas Gerais. Em Minas, liberdade não pode mais ser um simples slogan publicitário. Tem de ser um desafio de construção diária, um norte perpétuo, um compromisso. Não desistiremos desse ideal”.

PMDB exige apoio do PT em Minas, mas perde eleição

Usando essa estratégia e numa jogada política, o PMDB aliou-se ao PT (e ao PRB e PC do B) na tentativa de conquistar o Governo de Minas Gerais, em troca do apoio à candidata Dilma Rousseff (PT) nas eleições presidenciais. Em junho, os petistas chegaram a fazer prévias para definir o candidato em Minas. O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ganhou do ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. No entanto, Lula e a Executiva Nacional pressionaram Pimentel para desistir da candidatura. Com isso, o ex-prefeito lançou-se candidato ao Senado, ficando em terceiro lugar, e Patrus entrou como candidato a vice de Hélio Costa.
Além de perder a disputa para o governo do Estado, o PMDB, que tinha nove deputados federais, em 2010, elegeu apenas sete, entre eles o ex-governador Newton Cardoso e o candidato derrotado à Prefeitura de Belo Horizonte em 2008, Leonardo Quintão. Na Assembleia Legislativa, manteve a mesma representatividade, com a reeleição dos mesmos oito deputados.
No estado, é o partido com o segundo maior número de prefeituras – 1203, perdendo apenas para o PSDB. No Campo das Vertentes, na microrregião de São João del-Rei, a representação do PMDB é bastante significativa. Nas 15 cidades da região sete prefeituras administradas pelo partido: Nivaldo Andrade (São João del-Rei), Pinto (Tiradentes), Cornélio (Conceição da Barra de Minas), Ilídio (Dores do Campo), Antônio Mangá (Lagoa Dourada), Tazinho (Madre de Deus de Minas) e Cabaco (Piedade do Rio Grande). Os outros partidos têm baixa representatividade: PSDB, PT e PP (com duas prefeituras, cada), PV e Democratas (uma prefeitura cada).
Nas eleições estaduais de 2010, muitos dos prefeitos peemedebistas não apoiaram o candidato da sigla ao governo do estado. Segundo Roque Silva Filho, presidente do PMDB em São João del-Rei e coordenador regional do partido, Nivaldo Andrade foi o primeiro prefeito a rejeitar a candidatura de Hélio Costa e apoiar o candidato tucano. “Toda verba que o Nivaldo precisou do governo do Estado foi liberada. Como que ele não ia apoiar o Aécio? Não tem como. No começo até tentaram falar sobre infidelidade partidária, mas não conseguiram. Grande parte dos prefeitos do PMDB de Minas apoiou (sic) o ex-governador. Nivaldo foi o primeiro deles”, justificou.
O Secretário de Gabinete da Prefeitura afirmou que os partidários foram livres para escolher quem apoiar, já que Aécio tem muita influência na terra de seu avô. “Aécio é quase são-joanense, Tancredo foi peemedebista, apoiamos o candidato do PSDB, mas foi um apoio velado. Teve alguns que aplaudiram e outros que não aplaudiram, mas aqui em São João o PMDB apoiou Aécio como primeiro senador e Pimentel como o segundo. Escolher o senador do PT e não o Itamar foi a solução que encontramos para balancear, já que apoiamos a reeleição de Anastasia”, ressaltou.
Roque diz ainda que o PMDB de São João apoiou a candidata Dilma Roussef e seu vice peemedebista. Sobre a relação que o partido terá com a presidente eleita, o secretário acredita que seja uma aliança bem sucedida. “Vamos esperar janeiro para ver como será essa aliança. O PMDB sempre teve uma boa relação com o PT. Acredito que vai dar certo e o partido deve continuar com um grande número de cargos e ministérios”, afirmou.
Avaliando a campanha mal sucedida do candidato Hélio Costa, Roque Silva não tem dúvidas sobre os motivos que levaram a essa derrota. “O Aécio foi um bom governador. Dois mandatos e fez muita coisa. Era muito difícil (o PMDB) conseguir virar”, analisou. Citando a reeleição de Anastasia, o presidente do PMDB em São João del-Rei deu uma mostra do poder que Aécio tem ao afirmar que “é muito difícil trabalhar contra o Aécio aqui em Minas”. Segundo ele, a influência de Aécio explica então o fracasso da coligação PT PMDB em Minas Gerais.

Histórico: de oposicionista ao regime militar a um partido sem identidade
O MDB
Com o Regime Militar instalado no país em 1964, as forças políticas foram compelidas à reorganização já que o Ato Institucional nº 2, de 1965, extinguiu os treze partidos existentes no Brasil. Os adeptos do novo governo se reuniram na Aliança Renovadora Nacional (ARENA) contando com o apoio da maioria dos políticos da UDN e do PSB. Enquanto que seus opositores fundaram o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em 1966 contando com políticos do PTB e dissidentes do PSD. Desde o primeiro instante, o partido abrigou políticos dos clandestinos PCB e PC do B.
            Devido às cassações sofridas pelos membros do partido por parte do governo, O MDB teve desempenho ínfimo nas eleições de 1966, 1970 e 1972. Disposto a enfrentar o status quo segundo as regras impostas pelos militares, a oposição apresentou Ulysses Guimarães como anticandidato à Presidência da República nas eleições indiretas de 15 de janeiro de 1974. No entanto, novamente o partido foi derrotado pelo General Ernesto Geisel por ampla maioria (400 votos a 74). Logo em seguida, em 15 de novembro de 1974, houve uma virada eleitoral e coube ao MDB ocupar quase três quartos das vagas em disputa para o Senado e duplicar sua bancada na Câmara dos Deputados.

A Criação do PMDB
O PMDB surgiu em 15 de janeiro de 1980 após a nova Lei dos Partidos Políticos ter resgatado o pluripartidarismo. Os militares visavam assim enfraquecer o MDB ao obrigarem a renomeação de todas as agremiações, exigindo de todos o designativo de "partido" no início do seu nome. Esses ditames incutiram no MDB a necessidade de uma continuação programática, assim, Jorge Singh, presidente do diretório municipal do MDB em Guarulhos, sugeriu o acréscimo da letra "P" à sigla "MDB" de modo a preservar o nome tradicional. Após a Lei dos Partidos Políticos, vários partidos foram fundados, e o MDB perdeu o monopólio das oposições.
            Em 15 de novembro de 1982 o partido elegeu nove governadores, entre os quais Franco Montoro em São Paulo e Tancredo Neves em Minas Gerais. Apurados os votos ficou estabelecida a polarização entre o PDS e o PMDB embora o PDT tenha conquistado o governo do Rio de Janeiro com Leonel Brizola.

A Eleição de Tancredo Neves
Ao frustrarem as eleições diretas com uma emenda imposta pelo governo militar em 84, as forças governistas acabaram propiciando o surgimento de Tancredo Neves como alternativa à sucessão de João Figueiredo na presidência. Alguns presidenciáveis do PDS refluíram em suas pretensões e a derrota de Mário Andreazza frente a Paulo Maluf na convenção em agosto de 1984 sacramentou o apoio dos dissidentes do PDS a Tancredo Neves através da indicação do senador José Sarney como vice-presidente na chapa que venceu Maluf.
A morte de Tancredo frustrou os anseios da nação quanto ao cumprimento de suas promessas de campanha, mas a postura ínclita de Ulysses Guimarães e as multidões presentes às exéquias do líder morto produziram o ambiente necessário para uma transição pacífica. Nesse ínterim o vice-presidente José Sarney assumiu o governo e colocou em marcha as metas da Nova República.

Sarney e o Plano Cruzado
Paralelo ao curso da reforma política iminente, José Sarney voltou as suas atenções para a economia e em 28 de fevereiro de 1986 anunciou o Plano Cruzado em cadeia nacional de rádio e televisão. Dentre as medidas anunciadas destacaram-se a instituição do cruzado como moeda ao invés do cruzeiro, congelamento de preços por um ano e salários reajustados segundo a média dos últimos seis meses. Outra característica do plano foi a presença dos "fiscais do Sarney", cidadãos que zelavam voluntariamente pelo controle dos preços. A essa altura, a queda na inflação parecia a mais irrefutável prova de êxito do pacote e, assim, favorecido pelo sucesso do Cruzado, por sua condição de combatente do governo militar e pela multiplicidade ideológica de seus filiados, o PMDB se credenciou para a disputa dos governos estaduais e da Assembleia Nacional Constituinte.
            Com tamanho respaldo, o PMDB atingiu o cume de sua história política em 15 de novembro de 1986 ao eleger vinte e dois governadores sendo derrotado apenas em Sergipe. Naquele ano foram renovados dois terços do Senado (inclusos três representantes do Distrito Federal) e o PMDB conquistou 38 das 49 vagas. Na Câmara, a legenda obteve 260 das 487 cadeiras, num desempenho similar ao do PSD em 1945. Mesmo assim houve disputas estaduais mais acirradas: em São Paulo a vitória de Orestes Quércia aconteceu em disputa apertada e, em Minas, Newton Cardoso derrotou o peemedebista Itamar Franco.

Ulysses e a Assembleia
Majoritário na Assembleia Nacional Constituinte instalada em 1º de fevereiro de 1987, o PMDB elegeu Ulysses Guimarães para presidir os trabalhos do excelso colegiado, embora a multiplicidade de tendências e posicionamentos tenha neutralizado a maioria do partido. Havia parlamentares próximos à esquerda, à direita, alguns se agruparam ao centro e outro grupo deixou a legenda para fundar o PSDB em 24 de junho de 1988. Ao longo dos debates as votações mais acaloradas versavam sobre: ordem econômica, reforma agrária, sistema de governo e a duração do mandato presidencial, afinal estendido até 15 de março de 1990. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a nova carta foi o marco de uma transição institucional bem-sucedida, todavia a combinação de crise econômica e hiperinflação ao fim do Governo Sarney reduziu consideravelmente o poderio do PMDB, que, embora tenha eleito o maior número de prefeitos em 1988, conquistou apenas quatro capitais: Fortaleza, Goiânia, Salvador e Teresina.
Naquele ano, o eleitorado urbano preferiu alternativas à esquerda como o PT, o PDT e PSB , resultados vistos como uma prévia da eleição presidencial de 1989 na qual Ulysses Guimarães colheu somente 3.204.853 votos, contagem pífia se considerarmos sua biografia e o histórico do PMDB. No segundo turno, os seus membros se dividiram entre apoiar Fernando Collor ou Luiz Inácio Lula da Silva. Com a vitória do primeiro, o partido passou a fazer-lhe oposição.

O PMDB hoje
Com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro de 2003, houve gestões para agregar o partido à coalizão situacionista, entretanto as negociações só viriam a se concretizar em janeiro do ano seguinte quando foram oferecidos ao PMDB os ministérios das Comunicações, Minas e Energia e Previdência Social. Lideranças antes alinhadas a Fernando Henrique se aproximaram do governo e assim José Sarney e Renan Calheiros (duas vezes) ocuparam a presidência do Senado entre 2003/2007 e João Henrique a presidência dos Correios.
            No segundo mandato de Lula, o partido perdeu a Previdência Social, mas foi contemplado com Gedel Vieira Lima no Ministério da Integração Nacional e com a escolha de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa. Ao todo, o PMDB detém seis ministérios. Hoje, o maranhense José Sarney preside o Senado e o paulista Michel Temer preside tanto a Câmara dos Deputados quanto o partido e foi eleito vice-presidente de Dilma Rousseff. Além disso, o PMDB já articula com outros partidos a formação de um bloco para ter mais poder no futuro governo. 

domingo, 21 de novembro de 2010

PV sai do ostracismo com a candidatura de Marina Silva à Presidência da República

Carolina Slaibi, Eduardo Maia, Rômer Castanheira

            O Partido Verde (PV), que nas disputas eleitorais sempre amargou derrotas e ficava na lista dos partidos menos votados, conseguiu sair do ostracismo na eleição presidencial de 2010, quando a ex-senadora e candidata Marina Silva obteve cerca de 20 milhões de votos. Ficou em terceiro lugar e a sua votação expressiva, principalmente, nos grandes centros urbanos, foi considerada um fator decisivo para impedir a vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, no primeiro turno.
Em Convenção Nacional no dia 10 de junho de 2010, Marina Silva foi lançada por consenso como candidata à Presidência, tendo como o candidato a vice-presidente, o empresário Guilherme Leal. Além da chapa presidencial, o PV anunciou os candidatos a governador de oito Estados e o Distrito Federal. Foram confirmados os nomes dos seguintes candidatos a governador: Fernando Gabeira (RJ), Fabio Feldmann (SP), Luiz Bassuma (BA), Eduardo Brandão (DF), José Fernando Aparecido (MG), Sergio Xavier (PE), Paulo Salamuni (PR), Montserrat Martins (RS) e Reynaldo Moraes (SE).
A votação surpreendente de quase 20 milhões obtida por Marina Silva deu visibilidade ao Partido Verde. No entanto, ao analisar os resultados nas disputas de 2010, é possível verificar que se os verdes tiveram esta votação surpreendente para a Presidência, continuou com números inexpressivos em relação aos outros cargos. O partido foi o que mais registrou candidaturas na eleição de 2010, superando, inclusive o PT e o PMDB. Segundo o jornal O Tempo, houve um aumento de 40,3% no número de concorrentes nos diferentes cargos disputados. O PV lançou 1.363 candidaturas.
            Mas o alto número de candidatos não surtiu o mesmo efeito no número de eleitos. Na disputa pelo Senado, o partido não elegeu nenhum dos doze candidatos divididos pelo país, que concorreram a uma vaga na casa. O cenário estadual não foi diferente. Dos 11 candidatos que reforçaram o palanque de Marina em âmbito estadual, nenhum obteve a vitória.
            Na disputa pela vaga de Câmara dos Deputados, o partido não registrou grandes alterações no cenário atual, decorrente das eleições de 2006. Foram eleitos apenas 15 deputados federais contra 13 no ano de 2006, uma mudança que não foi expressiva, como divulgado pelo partido. Nas Assembleias Legislativas, o PV aumentou em apenas quatro deputados, quando elegeu seus 37 nomes contra 34 na eleição passada. Os estados em que o partido teve maior votação foram o Acre, terra da candidata Marina Silva, e São Paulo, elegendo nove deputados cada.

Disputa no segundo turno revela ambiguidades do Partido Verde
No segundo turno, quando havia uma grande expectativa sobre o apoio do PV e da candidata derrotada Marina Silva a um dos candidatos, o partido mostrou-se ambíguo. Em convenção, no dia 17 de outubro, domingo, a duas semanas da eleição, os verdes optaram pela neutralidade. A maioria do partido votou para que o Partido Verde ficasse neutro, sendo que quatro dos inscritos para votar tiveram posição diferente, dos 92 integrantes.
A candidata Marina Silva leu carta aberta com críticas, ao que chamou de "dualidade destrutiva" entre PT e PSDB. Segundo a candidata, os dois partidos pregam a "mútua aniquilação" na disputa entre Dilma e Serra. Marina defendeu o que preferiu chamar de posição de independência: “Essa decisão não foi fácil, não é fortuita. Faz parte de um intenso diálogo com a sociedade, com o partido, com nossos interlocutores. Enfim, tanto do lado da ministra Dilma quanto do lado do governador Serra”, afirmou. “O segundo turno é uma nova chance para todos. Para candidatos e coligações, comprometerem-se com propostas e programas que possam sair das urnas, legitimadas por um vigoroso pacto social entre eleitos e eleitores”, declarou Marina.
Vários diretórios e lideranças do partido declararam apoio ao candidato José Serra. O candidato do PV ao governador do Rio de Janeiro, o deputado Fernando Gabeira, confirmou no dia 4 de outubro o apoio ao tucano José Serra no segundo turno presidencial. A participação de Gabeira na campanha de Serra dependeria de uma conversa do deputado com a senadora Marina Silva (PV), terceira colocada na eleição presidencial. "Minha posição é de apoiar Serra não só porque ele me apoiou, mas porque o considero o melhor candidato", revelou Gabeira.
Outros, no entanto, optaram pela candidatura de Dilma Rousseff, como o candidato derrotado ao governo de Minas pelo PV, José Fernando Aparecido, que afirmou que a sua opção por Dilma foi feita após uma negociação, na qual a campanha da petista teria se comprometido a incluir no programa questões específicas de políticas na área de mineração. “Até agora não fui procurado pelo PSDB, mas eu defendo essa pauta há anos aqui no estado”, declarou Aparecido.

O cantor e compositor, Gilberto Gil, que é filiado ao PV e foi ministro da Cultura do governo Lula entre 2003 e 2008, declarou seu voto em favor de Dilma antes da reunião de apoio do PV.  "Eu votei em Marina, sou do Partido Verde, é a candidata do Partido Verde. Vou votar em Dilma no segundo turno. Convivi com ela em ambiente de governo, em situação, enfim, de ministério, que decisões precisavam ser tomadas, que a disputa pelo orçamento se dava, e ela sempre tratou o Ministério da Cultura com muito respeito, muito apreço, dando a ele muita importância", declarou Gilberto Gil. O teólogo Leonardo Boff, um dos criadores da teologia da libertação e pessoa fundamental na introdução da senadora Marina Silva na política, também aderiu à campanha de Dilma Rousseff. “Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva”, afirmou Boff em mensagem publicada no site Carta Maior.
Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, líder seringueiro no Acre, morto em 1988 e amigo de Marina, participou do ato de Dilma. Ela afirmou que estava ao lado da petista no segundo turno por “coerência”. A filha de Chico Mendes destacou ter votado em Marina no primeiro turno, mas que o PT e Dilma tinham mais identidade com a causa ambiental e uma ligação mais próxima com seu pai.
 Durante o evento do discurso de neutralidade ficou explicito o plano de ter Marina Silva na disputa pelo Palácio do Planalto em 2014. A pastora Valnice Milhones, da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, uma das lideranças religiosas que apoiou a presidenciável verde, chegou a lançar a candidatura para a próxima eleição. “A convenção não é o fim. É o começo. 2014, Marina presidente”, afirmou sendo aplaudida com entusiasmo. Para o candidato a vice na chapa de Marina Silva, o empresário Guilherme Leal, a posição de independência permitirá "criticar quando for preciso e apoiar quando necessário" o futuro governo.
As pesquisas de opinião, no entanto, revelavam que Serra tinha uma maior preferência entre os eleitores de Marina Silva. Serra herdou a maioria dos votos declarados no primeiro turno para a candidata do PV, Marina Silva. Pela nova pesquisa do Datafolha, realizada entre os dias 28 e 29 de setembro, Serra apareceu com 51% dos quase 20 milhões de votos dados a Marina, enquanto Dilma teve 22%.
A trajetória do PV no Brasil: de um grupo de intelectuais e ambientalistas a um partido sem uma ideologia definida
            O Partido Verde surgiu a partir de um grupo de ecologistas denominado United Tasmanian Group, em 1972, na Tasmânia (Austrália). O objetivo era impedir o transbordamento do Lake Pedder. Mais Tarde, o grupo adotou o nome de Green Party e está constituído em mais de 120 países. Na Europa, o Partido Verde começou nos anos 70 e se consolidou como partido político nos anos 80. Atualmente, o PV é elenco de vários governos e é a quarta maior bancada no Parlamento Europeu. O Partido Verde está organizado em quatro federações: a Federação Européia dos Partidos Verdes, a Federação dos Partidos Verdes das Américas, a Federação dos Partidos Verdes da África e a Federação dos Partidos Verdes da Ásia e Oceania.
No Brasil, a primeira manifestação político partidária com o nome de Partido Verde ocorreu em 1982, no Estado do Paraná. Hamilton Vilela de Magalhães, candidato a deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), utilizou em sua propaganda, principalmente na televisão, o nome do Partido Verde e uma baleia como símbolo. Essa, no entanto, foi uma manifestação isolada. O Partido Verde brasileiro surgiu no Rio de Janeiro, em 1986. O grupo foi composto por ambientalistas, ativistas de outros movimentos sociais, intelectuais e artistas. Entre as lideranças mais expressivas estavam Carlos Minc (ex-ministro da Cultura no governo Lula e atual candidato a deputado federal pelo PT-RJ), Alfredo Sirkis (candidato à presidência da República pelo PV em 1998, ficando em 6º lugar), o ambientalista Herbert Daniel, o engenheiro civil Guido Gelli, a atriz Lucélia Santos e Fernando Gabeira (ex-exilado político, deputado federal e candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV em 2010), Domingos Fernandes (ex-exilado político e candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro em 2006), José Luiz de França Penna (ambientalista e vereador eleito em 2008 pelo PV), Sarney Filho (ministro do Meio Ambiente de 1999 a 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso, e atual deputado federal) e a Marina Silva (ministra do Meio Ambiente no governo Lula e atual candidata à Presidência da República pelo PV).
Mesmo legalizado, o PV não participou das eleições de novembro de 1986. Apesar disso, no Rio de Janeiro, em uma aliança informal com o PT, o então líder verde, Fernando Gabeira, disputou as eleições para governador do Estado. Pela primeira vez no Brasil, nas tevês e nas ruas, foram vistas atitudes não conservadoras, além de manifestações por uma política predominantemente ecológica. A reação foi hostil, e a candidatura Verde enfrentou uma oposição forte através da mídia conservadora. Nessa eleição, Fernando Gabeira obteve 7,8% dos votos e ficou em terceiro lugar. Os verdes elegeram também seu primeiro deputado estadual, Carlos Minc.
Em 1988, o PV conseguiu o registro provisório e elegeu apenas 20 vereadores no país, distribuídos nos estados do Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Paraíba. Tinha, no entanto, o apoio do líder ambientalista do Acre Chico Mendes, assassinado naquele ano. Em 1989, na primeira eleição direta para a presidência depois da ditadura, 23 candidatos disputaram o pleito. O PV, em função de conflitos internos, decidiu lançar Fernando Gabeira, que teve apenas 125.842 votos, ficando em 18º lugar (com menos de 1% dos votos). Uma ala do partido defendia a aliança com o PT. Em 1990, o PV teve o seu registro cassado e não concorreu nas eleições.
Na eleição de 1992, o PV conseguiu eleger 54 vereadores no país e três prefeitos em pequenas cidades de São Paulo. Em 1993, o partido obteve o seu registro definitivo. Na disputa presidencial de 1994, o PV coligou-se à frente de esquerda e apoiou a candidatura de Lula (PT). Elegeu o seu primeiro deputado federal – Fernando Gabeira (PV-RJ) e três deputados estaduais (Minas Gerais, Paraíba e São Paulo).
Nas eleições municipais de outubro de 1996, o PV elegeu 13 prefeitos em pequenas cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais; 189 vereadores distribuídos em 15 estados da federação. Em dois municípios de São Paulo, os prefeitos do Partido Verde fizeram seus sucessores. A maior cidade com uma administração do PV, até então, passara a ser Rio Claro, no Estado de São Paulo, com uma população de 160 mil habitantes, e posteriormente, Guarulhos (1998), também no Estado de São Paulo, com uma população 1,1 milhão de habitantes (o vice-prefeito do Partido Verde assumiu o cargo deixado pelo prefeito em exercício).
O PV manteve-se no ostracismo com baixa representatividade. Na eleição de 1998, lançou Alfredo Sirkis como candidato à Presidência, ficando em 6º lugar, com uma votação inexpressiva (212.984 votos). Na disputa, Fernando Henrique Cardoso saiu vitorioso no primeiro turno (35 milhões de votos), seguido de Luís Inácio Lula da Silva (21 milhões de votos). Em terceiro lugar, ficou Ciro Gomes (PPS), com 7 milhões de votos. Enéas (PRONA), em quarto lugar, teve 1.447.090, seguido de Ivan Frota (PMN), com 251.337 votos. Gabeira, uma das principais lideranças do PV, tinha rompido com a agremiação e se elegeu novamente deputado federal pelo PT.
Em 2000, o PV obteve uma votação mais expressiva nas disputas municipais, chegando a 1,8 milhões de votos para prefeitos e vereadores. Mas o partido somente elegeu 13 prefeitos no país e ampliou para 315 o número de vereadores. Em 2002, a sigla elegeu cinco deputados para a Câmara Federal (2 por São Paulo, 1 pelo Rio de Janeiro, 1 pela Bahia e 1 por Minas Gerais). Foi quando Gabeira rompeu com o PT e retornou ao PV, garantindo o seu terceiro mandato de deputado federal. Na disputa pela Presidência, o Partido Verde teve uma posição de neutralidade, não lançando nenhum candidato nem participando de nenhuma coligação.
Se desde a sua fundação o PV, apesar da baixa representatividade, procurou manter uma linha ideológica mais consistente, principalmente, em defesa do meio ambiente e de causas sociais, em 2004, o partido fechou alianças com diferentes partidos e conseguiu visibilidade. O Partido Verde elegeu 56 prefeitos, 68 vice-prefeitos e 772 vereadores. Em 2005, a bancada federal do PV passou a ser composta por oito deputados, cumprindo o desafio de obter 5% dos votos válidos no país para Câmara dos Deputados. O PV integrou, também, o Governo do presidente Lula tendo como principais representantes, Gilberto Gil (ex-ministro da Cultura) e Juca Ferreira (ministro da cultura desde 2008).
Em 2006, o PV afastou-se dos antigos aliados de centro-esquerda como o PT e aproximou-se de partidos de oposição ao governo Lula, como o PSDB e o Democratas. Elegeu 14 deputados federais, sendo cinco de São Paulo, quatro de Minas Gerais, dois da Bahia, um do Rio de Janeiro, um de Roraima e um do Maranhão, além de 33 deputados estaduais. Em Minas Gerais, o PV também está dividido, sendo que parte dos deputados eleitos é aliada do ex-governador Aécio Neves (PSDB) e não está ligada às questões ambientais. No Rio de Janeiro, Gabeira é hoje aliado dos tucanos e dos democratas.
Nas eleições municipais de 2008, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, os verdes conseguiram eleger, pela primeira vez um prefeito em uma capital brasileira, a prefeita Micarla de Sousa, pelo 1º turno com 51% dos votos. Em 2009, a fundadora Maria de Lourdes Pinheiro Simões, além de outros ecologistas, afastou-se do PV. Nesse mesmo ano, o partido passou a ter como filiado em defesa do meio ambiente, Marina Silva. Desde então, o PV está organizado em todos os Estados da Federação.

A criação do LIVRE
Formado por dissidentes do PV de 15 Estados, que discordam do rumo da legenda nos últimos anos, o Partido Livre realizou seu primeiro encontro nacional no dia 22 na Câmara Municipal de Belo Horizonte. O Partido Livre, que está em processo de legalização, deve ser o vigésimo oitavo partido político brasileiro registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente do novo partido em Minas Gerais e um dos fundadores do PL, Carlos Magno Taborda, disse ao Portal Terra que uma das razões que levou o grupo, formado basicamente por jornalistas e acadêmicos, a fundar o partido é porque eles "não aceitaram o fato do PV colocar Marina Silva como pré-candidata à presidência".
O primeiro encontro nacional do Livre irá formalizar o apoio do novo partido à candidata à presidência Dilma Rousseff (PT). Os militantes se encontraram com a petista, no Rio de Janeiro, e decidiram pela manifestação a favor da ex-ministra. "Entre os três pré-candidatos, acreditamos que a Dilma se identifica mais com nossas ideias", declarou o líder do novo partido em Minas. De acordo com Taborda, o novo partido já somou mais de 100 mil assinaturas desde novembro de 2009. "Esperamos nos registrar no TSE em dezembro deste ano", afirmou. A Executiva Nacional do Livre é formada por membros de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e Espírito Santo.

PSDB elege o maior número de governadores, mas perde segundo turno da disputa presidencial

Ana Pessoa Santos e Ayalla Simone Nicolau

            O candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, depois de enfrentar uma crise em sua campanha, conseguiu garantir uma vaga no segundo turno, que foi disputado com a candidata eleita Dilma Rousseff (PT). Ele obteve cerca de 33 milhões de votos contra 47 milhões da petista, no primeiro turno. No entanto, no segundo turno, acabou derrotado - Dilma ganhou com mais de 55 milhões de votos, enquanto Serra teve aproximadamente 44 milhões de votos. É a terceira derrota consecutiva do PSDB na disputa presidencial: em 2002, Serra candidatou-se e perdeu para Luís Inácio Lula da Silva (PT); em 2006, Geraldo Alckmin disputou com Lula e saiu derrotado; em 2010, novamente Serra foi o nome do PSDB.
Além de perder a disputa presidencial, o PSDB também saiu mais enfraquecido no Senado e na Câmara dos Deputados, mas foi o partido que elegeu o maior número de governadores – oito, cujo eleitorado corresponde a quase metade do país. Os tucanos elegeram, no primeiro turno, quatro governadores, sendo que dois representam os maiores estados do país: São Paulo, com a vitória de Geraldo Alckmin, e Minas Gerais, com Antônio Anastasia. Elegeu, ainda, o governador do Paraná, Beto Richa, e de Tocantins, Siqueira Campos. Em segundo turno, foram eleitos ainda os governadores Teotônio Vilela (Alagoas), Marconi Perillo (Goiás), Simão Jatene (Pará) e José Anchieta (Roraima).
            Em geral, a representividade do PSDB na política brasileira caiu de 2006 para este ano. No total, foram eleitos 43 candidatos a menos neste ano. Em 2006, o partido tinha elegido 66 deputados federais. Neste ano, foram 53. Naquele ano, 152 deputados estaduais foram eleitos pelo PSDB, este ano, 123. Além disso, o partido elegeu um senador a menos que em 2006.
            O deputado estadual de Minas Gerais, Lafayette Andrada, que, em seu primeiro mandato, foi um dos líderes do governo Aécio Neves na Assembleia, avaliou o resultado das eleições como positivo para o PSDB, uma vez que “a votação do candidato José Serra foi muito boa. Além disso, o PSDB elegeu governadores em oito dos mais importantes estados do país”. Para ele, o PT não foi o grande vitorioso, uma vez que teve um crescimento pequeno, mas os partidos que compõem a base do governo nacional que foram os vitoriosos.
            Sobre a falta de um debate consistente durante o segundo turno das eleições presidenciais, o deputado estadual afirma que está relacionado à própria cultura política do país. “A maior parte da população não se interessa tanto por assuntos de economia, de relações internacionais entre outras áreas Então, neste sentido, é compreensível, que estes assuntos não tenham sido temas de grandes debates”, justificou.
            Ao ser questionado sobre a possibilidade de Minas ser prejudicada por ser governada por um político da oposição, Andrada acredita que “haverá uma relação respeitosa, republicana, entre o governo estadual e o governo federal, como aconteceu nos oito anos do governo Lula”, enquanto Aécio Neves governava o estado.
            Para ele, a atuação do PSDB no Campo das Vertentes “foi sempre pautada pela liderança do governador Aécio Neves, nestes últimos oito anos. Nesse sentido, segundo o deputado, grandes investimentos foram levados para esta região. O PSDB foi um partido muito benéfico para a região”, ressaltou.
            Sobre as eleições municipais de 2012, Lafayette Andrada afirma que “seguramente, tanto em Barbacena quanto em São João del-Rei o PSDB terá candidato”, porém ainda é cedo para citar nomes. Ele ainda ressalta que “as eleições municipais têm uma características muito local. Há um embate localizado entre correntes políticas locais”, explicou. Em 2008, o PSDB não lançou candidatura própria em São João del-Rei e apoiou o candidato Agenor Simões (PSB), que ficou em segundo lugar e perdeu para Nivaldo Andrade (PMDB). Em Barbacena, o irmão de Lafayette, Martinho Andrada (PSDB) disputou a reeleição, mas foi derrotado por Danuza Bias Fortes, aliada de Hélio Costa (PMDB) e adversária dos tucanos.

PSDB: de dissidentes do PMDB a líderes de uma frente de centro-direita
O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) foi fundado em 25 de junho de 1988, portanto é o mais jovem dos grandes partidos políticos do Brasil. Inspirado na social democracia - estado intervencionista de políticas sociais equilibradas com o mercado – o partido foi criado pelos críticos dissidentes do PMDB, que queriam uma linha mais à esquerda e eram contrários à falta de ideologia dos peemedebistas. Entre eles estavam Fernando Henrique Cardoso, José Serra, Franco Montoro, Pimenta da Veiga e Eduardo Azeredo.
O símbolo do partido é um tucano nas cores azul e amarelo, daí, o apelido dos filiados, militantes e simpatizantes, que são considerados como centro-esquerda, linha de pensamento originada no socialismo e que atualmente tenta modernizar a divisão direita-esquerda, portanto, com idéias próximas ao Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo o deputado estadual Lafayette Andrada, “o partido defende uma gestão otimizada, uma melhor aplicação dos recursos públicos, uma reforma tributária e uma reforma política”.
A história do partido teve início com as eleições presidenciais de 1989, lançando Mário Covas a candidato, que ficou na quarta posição. Em 1992, o Brasil passava por uma situação delicada, devido à inflação e aos escândalos de corrupção. No mesmo ano, o Brasil realizou eleições municipais e o PSDB elegeu 293 prefeitos, 297 vice-prefeitos e 3.274 vereadores, representando um crescimento de 1.500%. No ano de 1994, o PSDB ocupou cargos importantes no cenário político. Itamar Franco foi eleito presidente do país. Fernando Henrique Cardoso, que na época foi nomeado ministro da Fazenda, criou o Plano Real e decidiu-se lançar á presidência nas eleições seguintes. Para isso, o partido começou seguir tendências para a direita, aliando-se ao Partido da Frente Liberal (PFL) tendo Marco Maciel como candidato a vice.
 FHC venceu a disputa ainda no primeiro turno e o partido conquistou o governo de seis estados. Elegeram 11 senadores, 63 deputados federais e 97 estaduais. Em 4 de junho de 1997, a emenda constitucional que regularizava a possibilidade de reeleição foi aprovada, entrando em vigor para as eleições de 1998. FHC tornou-se o primeiro presidente brasileiro reeleito para um segundo mandato, e o partido conseguiu eleger 07 governadores, 16 senadores, 99 deputados federais e 152 deputados estaduais, mantendo a trajetória ascendente desde sua fundação.
Já em 2002, o PSDB, representado por José Serra, foi derrotado pelo atual presidente, Luis Inácio Lula da Silva. Elegeu apenas os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Nas eleições de 2006, o candidato à Presidência foi Geraldo Alckmin e novamente o partido foi derrotado pelo PT de Lula. O PSDB saiu da eleição de 2006 com 66 deputados e 14 senadores no Congresso Nacional, além de seis governadores.
Neste ano, o partido conseguiu que o candidato à presidência da República José Serra chegasse ao segundo turno, porém não conseguiu vencer a candidata petista Dilma Rousseff. Porém, o PSDB elegeu para começar a governar em 2011 um total de 189 candidatos, sendo oito governadores, 53 deputados federais, 123 deputados estaduais e dez senadores (cinco foram eleitos em 2010 e outros cinco continuam seus mandatos).

Derrota para o PT revela disputa interna no PSDB  
Apesar de ter eleito oito governadores, sendo dois nos maiores estados do país (São Paulo e Minas Gerais), o PSDB vive uma disputa interna justamente entre paulistas e mineiros. Em três eleições consecutivas, o PSDB de São Paulo manteve a sua hegemonia no partido e lançou os candidatos à Presidência – Serra e Alckmin. Para a eleição de 2010, o ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves, chegou a anunciar a sua pré-candidatura e defendeu prévias internas para a escolha do candidato. Mas acabou aceitando concorrer ao Senado em Minas Gerais e deixar a vaga para Serra.
As divergências começaram a ficar mais fortes com a resistência de Aécio Neves de ocupar a vaga de candidato a vice na chapa de Serra. No primeiro turno presidencial, os tucanos mineiros foram criticados por não se empenharem na campanha do candidato Serra. No segundo turno, Aécio participou de vários atos da campanha presidencial até porque Minas era considerado um estado estratégico para garantir a virada contra a petista Dilma Rousseff. Os resultados, no entanto, foram bastante favoráveis ao PT em Minas Gerais, onde a candidata do PT obteve no segundo turno 58% dos votos contra 42% de Serra. Passadas as eleições, líderes do PSDB de São Paulo voltaram a criticar os tucanos mineiros de não terem se empenhado na campanha de Serra. Mas Aécio Neves sai como o nome mais fortalecido do partido, inclusive para a disputa de 2014.


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Contradições internas e resquícios da ditadura: uma análise sobre o Partido Progressista (PP)

Bruno Ribeiro e Marcelo Alves

O Partido Progressista (PP) é um partido de centro-direita fundado em 1995. As suas raízes remetem ao Partido Democrático Social (PDS), herdeiro da Aliança Renovadora Nacional (Arena), legenda que apoiou o regime ditatorial brasileiro. A sua postura ideológica transita entre o neoliberalismo e o centro-esquerdismo. Se durante a ditadura militar e nos anos 80, a legenda era uma das mais fortes no cenário político, a situação é bem diferente no contexto eleitoral de 2010. O PP foi um dos partidos que saiu mais enfraquecido da disputa. Manteve uma postura de apoio informal à candidata Dilma Rousseff (PT), não elegeu nenhum governador e na Câmara terá apenas 41 deputados federais, mantendo a mesma bancada de 2006.
Quanto ao posicionamento político e ideológico do PP, há posições contraditórias no partido. Muitos de seus integrantes mais antigos consideram a ditadura um período positivo do Brasil. No entanto, nas eleições de 2010, a legenda aliou-se à frente de centro-esquerda liderada pelo PT. Nos estados, adotou posturas contraditórias. Em Minas Gerais, por exemplo, indicou o deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), Alberto Pinto Coelho, para a vaga de candidato a vice-governador de Antônio Anastasia (PSDB).
Em entrevista ao Valor Econômico, o presidente nacional do PP, Francisco Dornelles (RJ), declarou que não foi formada uma coligação formal, na medida em que nem todos os diretórios estaduais da legenda concordam com a decisão nacional. Isso ficou evidente no posicionamento contraditório do partido em algumas unidades da federação. Em cinco estados, Rio Grande do Sul, Minas, Paraná, Rondônia e Alagoas, o PP apoiou o candidato do PSDB à Presidência, José Serra (PSDB). Outros dois diretórios, São Paulo e Santa Catarina, tiveram uma postura neutra.
No segundo turno da disputa presidencial, as contradições continuaram. O diretório nacional do PP anunciou apoio irrestrito à candidatura de Dilma. Já o PP-MG foi contra a decisão e declarou estar do lado de José Serra na corrida ao Palácio do Planalto. O presidente estadual do PP de Minas Gerais, deputado Alberto Pinto Coelho, explicou que os progressistas mineiros tomaram essa decisão para “manter a aliança vitoriosa no Estado, ao lado do governador reeleito Antonio Anastasia (PSDB) e dos senadores eleitos Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS)”. Alberto Pinto Coelho foi eleito vice-governador na chapa de Anastasia.
Antes de Índio da Costa (DEM) ser escolhido vice na chapa presidencial do PSDB, o presidente nacional do PP chegou a ser cogitado para a vaga. Mesmo assim, Dornelles alegou que o PP encontrou objetivos comuns ao compor a coligação petista: desenvolvimento econômico, estabilidade monetária e justiça social. Além disso, durante o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, os progressistas colaboraram com o governo, sendo que o PP participa do Executivo Federal comandando o Ministério das Cidades, função exercida por Márcio Fortes. Ao falar de Dilma, Dornelles tece elogios a sua posição estratégica na condução dos principais programas do governo Lula.

Eleições 2010
Governador
Em Minas, que é o segundo maior colégio eleitoral brasileiro, o PP garantiu a vaga de candidato a vice-governador na chapa de Antônio Anastasia. A escolha de Alberto Pinto Coelho para vaga de vice do governador Anastasia demonstra a força que o PP tem em Minas, já que a vaga era pleiteada também pelos Democratas (DEM). Segundo entrevista do governador eleito ao jornal Estado de Minas em junho, pesou a favor de Alberto o apoio que o PP tem dos parlamentares mineiros.
Analisando em âmbito nacional, em geral, pode-se dizer que o partido saiu enfraquecido por não ter conseguido eleger nenhum governador. No segundo turno, teve a chance de eleger Neudo Campos, que acabou derrotado por poucos votos em Roraima numa disputa muita acirrada com Anchieta Júnior (PSDB). O partido amargou duas derrotas importantes. Em São Paulo, tradicional estado do PP e terra de Paulo Maluf, o candidato Celso Russomano ficou em terceiro lugar. Em Santa Catarina, a candidata Ângela Amim, esposa de Espiridião Amim, perdeu para o Democrata Raimundo Colombo. Apesar das derrotas, o PP esteve aliado a coligações que saíram vitoriosas em 11 estados - Amazonas, Acre, Mato Grosso, Maranhão, Bahia, Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Alagoas e Minas Gerais.

Senadores
Em 2010, o PP conseguiu eleger quatro senadores da República: Ivo Cassol em Rondônia; Ciro Nogueira no Piauí; Benedito de Lira em Alagoas; Ana Amélia Lemos no Rio Grande do Sul, reforçando ainda mais o poder do partido no estado. Além disso, o PP participou de coligações vitoriosas em vários estados, inclusive em Minas, onde esteve na chapa que elegeu Aécio e Itamar. Na eleição de 2006, o PP elegeu Francisco Dornelles e ele continua no poder até 2014. Portanto, o partido cresceu no Senado com as últimas eleições, pois saltou de apenas um para cinco senadores.

Deputados federais e estaduais
O PP conseguiu eleger 41 deputados federais em todo o Brasil, sendo que cinco são de Minas Gerais: Toninho Pinheiro (179.649 votos), Dimas Fabiano (146.061), Márcio Reinaldo (124.551), Luiz Fernando (105.422) e Renzo Braz (102.413). É importante salientar que, em Minas, o PP participou de coligação com PR, PPS, DEM e PSDB, que elegeu um total de 25 deputados federais, o que fortalece o PP.
            Nos estados em que o PP obteve melhor votação foi no Rio Grande do Sul, em que elegeu seis deputados (Luís Carlos Heinze, Covatti, José Otávio Germano, Renato Molling, Afonso Hamm e Jerônimo Goergen), na Bahia, com quatro deputados eleitos (Mário Negromonte, João Leão, Luiz Argolo e Roberto Brito) e três deputados na Paraíba (Aguinaldo Ribeiro, Eduardo da Fonte e Roberto Teixeira), no Paraná (Cida Borghetti, Nelson Meuer e Dirceu Sperafico) e no Rio de Janeiro (Jair Bolsonaro, Júlio Lopes e Simão Sessim).
            Nos demais estados, o PP teve uma votação pouco expressiva: São Paulo (Missionário José Olimpio e Aline Correia), Goiás (Roberto Balestra e Odacir Zonta), Amazonas (Rebecca Garcia e Carlos Souza) e Distrito Federal (Izalci e Roberto Fonseca), em que elegeu dois deputados. No Acre (Gladson Cameli), em Alagoas (Arthur Lira), no Ceará (Padre Zé), no Maranhão (Waldir Maranhã), no Mato Grosso (Eliene Lima), no Pará (Josué Bengston), no Piauí (Iracema Portela), em Rondônia (Carlos Margno) e em Tocantis (Lázaro Botelho), o PP garantiu apenas uma vaga.
Analisando o cenário, pode-se perceber que o partido tem bastante força no Rio Grande do Sul, onde elegeu seis parlamentares; em Minas, com cinco vitoriosos e na Bahia, em que quatro pepistas se elegeram deputados. Deve preocupar a cúpula da legenda a queda em São Paulo, estado que elegeu, em 2010, apenas dois congressistas. Em 2006, o número foi de seis eleitos no estado.
Para a Assembleia Legislativa de Minas, o partido conseguiu eleger apenas Gil Pereira, que obteve 95.450 votos. No entanto, o partido se manteve forte na assembléia por ter se coligado com o DEM e com o PSDB, coligação direitista que elegeu um total de 18 parlamentares em Minas. O PP só teve boa votação no Rio Grande do Sul (sete deputados estaduais eleitos), Santa Catarina e Bahia (seis em cada estado), e Mato Grosso (cinco deputados para a Assembleia). Nos outros estados, o PP elegeu um número reduzido de deputados, como no Rio de Janeiro e São Paulo: três deputados (Amazonas), dois deputados (Rio de Janeiro, Acre, Amapá, Maranhão), um deputado (São Paulo, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Paraíba, Paraná, Piauí, Rondônia, Roraima, Sergipe, Tocantins) e nenhum deputado (Alagoas, Ceará, Pará, Pernambuco e Rio Grande do Norte).

Votação no Campo das Vertentes
A região tem uma situação paradoxal para o PP, já que o Senador pelo Rio de Janeiro e presidente nacional da sigla, Francisco Dornelles, tem parentes em São João del-Rei. No entanto, a cidade não tem um diretório do partido. Dornelles é sobrinho de Tancredo Neves e mantém forte amizade com o senador eleito Aécio Neves. O último presidente do partido na cidade foi o empresário Fernando Magno. Procurado pela reportagem, ele não quis contar como foi sua curta presidência de dois meses e como o diretório acabou.
Sobre a situação do partido em São João del-Rei, o prefeito de Santa Cruz de Minas, José Antônio dos Santos, o Padre, opina que o insucesso do PP na cidade vizinha deve-se a um “racha” entre Dimas Fabiano e Luiz Fernando, que disputavam a liderança na cidade. Segundo o prefeito, isso dividiu o partido e enfraqueceu a legenda. Santos entrou no partido há seis anos, após divergências políticas com seu antigo partido, o PFL, atual Democratas.
São João del-Rei é marcada pelos governos atribulados, que envolvem vários processos judiciais, de Nivaldo José de Andrade (PMDB). O político apoiou o PSDB nas eleições de 2010, mesmo contra a resolução nacional de seu partido, que compõe a aliança de Dilma Rousseff. Nivaldo, que já foi do PP, governou São João por três vezes, não consecutivas, foi prefeito de Tiradentes e deputado estadual.
Na cidade, muitos integrantes do PP ainda se dizem de extrema-direita. O empresário filiado ao PP, José Rivetti Pereira, enfatizou que sempre se identificou com a ideologia do partido, desde suas origens na Arena. Ao analisar a política contemporânea brasileira, ele adota tom crítico e afirma que “o Brasil precisa de uma Revolução como a de 1964. Hoje está tudo uma bagunça”.
Rivetti, que é nostálgico, contou que pensa em sair do PP para se unir a antigos companheiros e refundar o PDS em São João del-Rei. Analisando governos, Rivetti considera que Lula teve um bom desempenho no Planalto. O pepista ainda comenta que, após a saída de Nivaldo do PP, o atual prefeito não realizou bons mandatos.
O PP é a agremiação de alguns vereadores de municípios da região. As Câmaras Municipais das cidades de Bom Sucesso e Santa Cruz de Minas, tem, cada uma, um vereador do PP. Em Passa Tempo, Piedade do Rio Grande, Ritápolis e Tiradentes, o número de Pepistas sobe para dois, em cada Câmara.

História do partido
O PP é um partido de contradições, rachas e brigas internas. Esse cenário vem da criação do PSD, em 31 de janeiro de 1980, após o fim do sistema partidário. O PDS tinha dentre seus filiados José Sarney e Fernando Collor, dois futuros Presidentes da República, sendo que o senador maranhense foi confirmado como presidente do partido em 28 de fevereiro de 1980, cargo que ocupou por quatro anos. Nas eleições indiretas que culminaram com a escolha de Tancredo Neves e José Sarney, o partido se dividiu entre o apoio às candidaturas de Paulo Maluf e Mário Andreazza. Escolhido Maluf, uma parcela do partido se desligou indo formar o PFL.
A história da agremiação teve fim em 4 de abril de 1993 quando este se fundiu ao PDC para criar o Partido Progressista Reformador (PPR), presidido pelo senador catarinense Espiridião Amin. Dois anos mais, a legenda tarde fundiu-se com o Partido Popular, criando o PPB e, finalmente, em 04 de abril de 2003, por iniciativa de convenção nacional, alterou o seu nome para PP (Partido Progressista).
A ideologia do PP se aproxima de uma postura de centro-direita. O partido defende a liberdade das regras de mercado e a não intervenção estatal, ao mesmo tempo em que advoga por uma ação econômica que leve em conta valores sociais, como a distribuição de renda, por meio de geração de empregos e do funcionamento da economia social de mercado. Paradoxalmente, o PP hoje é um dos aliados do PT de Dilma que defende políticas de centro-esquerda.