sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PMDB sai fortalecido das eleições e já articula bloco no Congresso para pressionar Dilma Rousseff

Ana Luiza Fernandes, Luis Gustavo Santos, Mariele Velloso e Violeta Cunha
                       
Se em Minas Gerais o resultado do primeiro turno da eleição foi frustrante para o PMDB com a derrota do candidato do partido, Hélio Costa, que teve 33% dos votos contra 62% de Antônio Anastasia (PSDB), no cenário nacional os peemedebistas mantêm a hegemonia por ser o partido com o maior número de eleitos. No Senado, o PMDB garantiu mais 16 vagas, mantendo a maior bancada com 19 senadores. Elegeu ainda,no primeiro turno, quatro governadores, e venceu o segundo turno em Roraima com 58.6% dos votos. No Congresso Nacional, o PMDB caiu de 89 para 79 deputados, perdendo a liderança para o PT que elegeu 88 deputados.0
            O PMDB garantiu ainda a vice-presidência da República, com a eleição no segundo turno de Dilma Rousseff (PT) que tem como vice Michel Temer, presidente nacional do partido. Com cerca de 2 milhões de filiados, é também o partido com maior representação nos municípios, tendo 1.201 prefeitos e 8.497 vereadores no país.
De olho na definição dos ministérios e cargos do futuro governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT), o PMDB já está articulando no Congresso Nacional um bloco com outros três partidos – PP, PR e PSC, que totalizam 202 deputados para garantir maior poder de negociação com a presidente eleita e com o PT e aliados no futuro governo. A formação do chamado “Blocão” foi criticada pelo PT, mas os peemedebistas alegam que é apenas uma forma de facilitar a formação do governo petista.
A estratégia do PMDB para o governo Dilma tem a ver com a trajetória do partido que da posição de partido oposicionista ao regime militar tornou-se uma agremiação sem identidade ideológica. Tem sido criticado por uma postura fisiologista em que busca formar alianças visando garantir cargos para as suas lideranças. Foi assim que fechou a negociação e indicou Temer para vice na chapa de Dilma Rousseff.
Desde o fim do regime militar de 1964, o PMDB detém o comando de pelo menos uma das casas do Congresso. Entre 1985 e 1993, presidiu simultaneamente a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, situação que volta a se repetir desde 2009 e permanece até hoje, com Michel Temer na Câmara e José Sarney no Senado.
Apesar da força e tradição, o partido nunca elegeu um presidente da república em eleições diretas. Em 1989, no primeiro pleito após a redemocratização, Ulysses Guimarães candidatou-se pelo PMDB, tinha o maior tempo no Horário Gratuito e amargou uma derrota, ficando em sétimo lugar. Em 1994, o peemedebista Orestes Quércia, ex-governador de São Paulo, entrou na disputa presidencial e teve menos votos que Enéas Carneiro, do extinto PRONA que conquistou o terceiro lugar com 7,38% dos votos contra 4,38% conquistado por Quércia.
A partir daí, o PMDB assume uma nova estratégia que tem garantido representação, poder e muitos cargos nos governos. Dando apoio aos partidos através de sua influência, negocia cargos importantes como ocorre hoje com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que o PMDB ocupa seis ministérios: Ministério da Integração Nacional, Ministério da Defesa, Ministério de Minas e Energia e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, além de estar no comando do Banco Central, órgão com status de ministério. Além disso, garante a nomeação de muitos filiados no segundo e terceiro escalão.
            Após o resultado do segundo turno, os presidentes do PMDB, Michel Temer, e do PT, José Eduardo Dutra entraram em acordo quanto a um rodízio entre as duas legendas para manter o comando na Casa. "Nós vamos firmar um documento pelo qual haverá um rodízio. O primeiro biênio de um partido, o segundo biênio de outro partido. Quem ocupará o primeiro ou segundo biênio, isso é coisa que vamos deixar lá para janeiro", disse Temer.
            Em âmbito estadual, a vitória esmagadora de Antonio Anastasia, candidato tucano, sobre Helio Costa, do PMDB, resultou na perda de mais uma cadeira de governador para o partido. Após o resultado, o candidato derrotado publicou nota em que dizia: “Como dissemos, Patrus e eu, na Carta ao Povo de Minas, o documento em que firmamos nosso compromisso de um governo verdadeiramente popular para Minas Gerais. Em Minas, liberdade não pode mais ser um simples slogan publicitário. Tem de ser um desafio de construção diária, um norte perpétuo, um compromisso. Não desistiremos desse ideal”.

PMDB exige apoio do PT em Minas, mas perde eleição

Usando essa estratégia e numa jogada política, o PMDB aliou-se ao PT (e ao PRB e PC do B) na tentativa de conquistar o Governo de Minas Gerais, em troca do apoio à candidata Dilma Rousseff (PT) nas eleições presidenciais. Em junho, os petistas chegaram a fazer prévias para definir o candidato em Minas. O ex-prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, ganhou do ex-ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias. No entanto, Lula e a Executiva Nacional pressionaram Pimentel para desistir da candidatura. Com isso, o ex-prefeito lançou-se candidato ao Senado, ficando em terceiro lugar, e Patrus entrou como candidato a vice de Hélio Costa.
Além de perder a disputa para o governo do Estado, o PMDB, que tinha nove deputados federais, em 2010, elegeu apenas sete, entre eles o ex-governador Newton Cardoso e o candidato derrotado à Prefeitura de Belo Horizonte em 2008, Leonardo Quintão. Na Assembleia Legislativa, manteve a mesma representatividade, com a reeleição dos mesmos oito deputados.
No estado, é o partido com o segundo maior número de prefeituras – 1203, perdendo apenas para o PSDB. No Campo das Vertentes, na microrregião de São João del-Rei, a representação do PMDB é bastante significativa. Nas 15 cidades da região sete prefeituras administradas pelo partido: Nivaldo Andrade (São João del-Rei), Pinto (Tiradentes), Cornélio (Conceição da Barra de Minas), Ilídio (Dores do Campo), Antônio Mangá (Lagoa Dourada), Tazinho (Madre de Deus de Minas) e Cabaco (Piedade do Rio Grande). Os outros partidos têm baixa representatividade: PSDB, PT e PP (com duas prefeituras, cada), PV e Democratas (uma prefeitura cada).
Nas eleições estaduais de 2010, muitos dos prefeitos peemedebistas não apoiaram o candidato da sigla ao governo do estado. Segundo Roque Silva Filho, presidente do PMDB em São João del-Rei e coordenador regional do partido, Nivaldo Andrade foi o primeiro prefeito a rejeitar a candidatura de Hélio Costa e apoiar o candidato tucano. “Toda verba que o Nivaldo precisou do governo do Estado foi liberada. Como que ele não ia apoiar o Aécio? Não tem como. No começo até tentaram falar sobre infidelidade partidária, mas não conseguiram. Grande parte dos prefeitos do PMDB de Minas apoiou (sic) o ex-governador. Nivaldo foi o primeiro deles”, justificou.
O Secretário de Gabinete da Prefeitura afirmou que os partidários foram livres para escolher quem apoiar, já que Aécio tem muita influência na terra de seu avô. “Aécio é quase são-joanense, Tancredo foi peemedebista, apoiamos o candidato do PSDB, mas foi um apoio velado. Teve alguns que aplaudiram e outros que não aplaudiram, mas aqui em São João o PMDB apoiou Aécio como primeiro senador e Pimentel como o segundo. Escolher o senador do PT e não o Itamar foi a solução que encontramos para balancear, já que apoiamos a reeleição de Anastasia”, ressaltou.
Roque diz ainda que o PMDB de São João apoiou a candidata Dilma Roussef e seu vice peemedebista. Sobre a relação que o partido terá com a presidente eleita, o secretário acredita que seja uma aliança bem sucedida. “Vamos esperar janeiro para ver como será essa aliança. O PMDB sempre teve uma boa relação com o PT. Acredito que vai dar certo e o partido deve continuar com um grande número de cargos e ministérios”, afirmou.
Avaliando a campanha mal sucedida do candidato Hélio Costa, Roque Silva não tem dúvidas sobre os motivos que levaram a essa derrota. “O Aécio foi um bom governador. Dois mandatos e fez muita coisa. Era muito difícil (o PMDB) conseguir virar”, analisou. Citando a reeleição de Anastasia, o presidente do PMDB em São João del-Rei deu uma mostra do poder que Aécio tem ao afirmar que “é muito difícil trabalhar contra o Aécio aqui em Minas”. Segundo ele, a influência de Aécio explica então o fracasso da coligação PT PMDB em Minas Gerais.

Histórico: de oposicionista ao regime militar a um partido sem identidade
O MDB
Com o Regime Militar instalado no país em 1964, as forças políticas foram compelidas à reorganização já que o Ato Institucional nº 2, de 1965, extinguiu os treze partidos existentes no Brasil. Os adeptos do novo governo se reuniram na Aliança Renovadora Nacional (ARENA) contando com o apoio da maioria dos políticos da UDN e do PSB. Enquanto que seus opositores fundaram o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) em 1966 contando com políticos do PTB e dissidentes do PSD. Desde o primeiro instante, o partido abrigou políticos dos clandestinos PCB e PC do B.
            Devido às cassações sofridas pelos membros do partido por parte do governo, O MDB teve desempenho ínfimo nas eleições de 1966, 1970 e 1972. Disposto a enfrentar o status quo segundo as regras impostas pelos militares, a oposição apresentou Ulysses Guimarães como anticandidato à Presidência da República nas eleições indiretas de 15 de janeiro de 1974. No entanto, novamente o partido foi derrotado pelo General Ernesto Geisel por ampla maioria (400 votos a 74). Logo em seguida, em 15 de novembro de 1974, houve uma virada eleitoral e coube ao MDB ocupar quase três quartos das vagas em disputa para o Senado e duplicar sua bancada na Câmara dos Deputados.

A Criação do PMDB
O PMDB surgiu em 15 de janeiro de 1980 após a nova Lei dos Partidos Políticos ter resgatado o pluripartidarismo. Os militares visavam assim enfraquecer o MDB ao obrigarem a renomeação de todas as agremiações, exigindo de todos o designativo de "partido" no início do seu nome. Esses ditames incutiram no MDB a necessidade de uma continuação programática, assim, Jorge Singh, presidente do diretório municipal do MDB em Guarulhos, sugeriu o acréscimo da letra "P" à sigla "MDB" de modo a preservar o nome tradicional. Após a Lei dos Partidos Políticos, vários partidos foram fundados, e o MDB perdeu o monopólio das oposições.
            Em 15 de novembro de 1982 o partido elegeu nove governadores, entre os quais Franco Montoro em São Paulo e Tancredo Neves em Minas Gerais. Apurados os votos ficou estabelecida a polarização entre o PDS e o PMDB embora o PDT tenha conquistado o governo do Rio de Janeiro com Leonel Brizola.

A Eleição de Tancredo Neves
Ao frustrarem as eleições diretas com uma emenda imposta pelo governo militar em 84, as forças governistas acabaram propiciando o surgimento de Tancredo Neves como alternativa à sucessão de João Figueiredo na presidência. Alguns presidenciáveis do PDS refluíram em suas pretensões e a derrota de Mário Andreazza frente a Paulo Maluf na convenção em agosto de 1984 sacramentou o apoio dos dissidentes do PDS a Tancredo Neves através da indicação do senador José Sarney como vice-presidente na chapa que venceu Maluf.
A morte de Tancredo frustrou os anseios da nação quanto ao cumprimento de suas promessas de campanha, mas a postura ínclita de Ulysses Guimarães e as multidões presentes às exéquias do líder morto produziram o ambiente necessário para uma transição pacífica. Nesse ínterim o vice-presidente José Sarney assumiu o governo e colocou em marcha as metas da Nova República.

Sarney e o Plano Cruzado
Paralelo ao curso da reforma política iminente, José Sarney voltou as suas atenções para a economia e em 28 de fevereiro de 1986 anunciou o Plano Cruzado em cadeia nacional de rádio e televisão. Dentre as medidas anunciadas destacaram-se a instituição do cruzado como moeda ao invés do cruzeiro, congelamento de preços por um ano e salários reajustados segundo a média dos últimos seis meses. Outra característica do plano foi a presença dos "fiscais do Sarney", cidadãos que zelavam voluntariamente pelo controle dos preços. A essa altura, a queda na inflação parecia a mais irrefutável prova de êxito do pacote e, assim, favorecido pelo sucesso do Cruzado, por sua condição de combatente do governo militar e pela multiplicidade ideológica de seus filiados, o PMDB se credenciou para a disputa dos governos estaduais e da Assembleia Nacional Constituinte.
            Com tamanho respaldo, o PMDB atingiu o cume de sua história política em 15 de novembro de 1986 ao eleger vinte e dois governadores sendo derrotado apenas em Sergipe. Naquele ano foram renovados dois terços do Senado (inclusos três representantes do Distrito Federal) e o PMDB conquistou 38 das 49 vagas. Na Câmara, a legenda obteve 260 das 487 cadeiras, num desempenho similar ao do PSD em 1945. Mesmo assim houve disputas estaduais mais acirradas: em São Paulo a vitória de Orestes Quércia aconteceu em disputa apertada e, em Minas, Newton Cardoso derrotou o peemedebista Itamar Franco.

Ulysses e a Assembleia
Majoritário na Assembleia Nacional Constituinte instalada em 1º de fevereiro de 1987, o PMDB elegeu Ulysses Guimarães para presidir os trabalhos do excelso colegiado, embora a multiplicidade de tendências e posicionamentos tenha neutralizado a maioria do partido. Havia parlamentares próximos à esquerda, à direita, alguns se agruparam ao centro e outro grupo deixou a legenda para fundar o PSDB em 24 de junho de 1988. Ao longo dos debates as votações mais acaloradas versavam sobre: ordem econômica, reforma agrária, sistema de governo e a duração do mandato presidencial, afinal estendido até 15 de março de 1990. Promulgada em 5 de outubro de 1988, a nova carta foi o marco de uma transição institucional bem-sucedida, todavia a combinação de crise econômica e hiperinflação ao fim do Governo Sarney reduziu consideravelmente o poderio do PMDB, que, embora tenha eleito o maior número de prefeitos em 1988, conquistou apenas quatro capitais: Fortaleza, Goiânia, Salvador e Teresina.
Naquele ano, o eleitorado urbano preferiu alternativas à esquerda como o PT, o PDT e PSB , resultados vistos como uma prévia da eleição presidencial de 1989 na qual Ulysses Guimarães colheu somente 3.204.853 votos, contagem pífia se considerarmos sua biografia e o histórico do PMDB. No segundo turno, os seus membros se dividiram entre apoiar Fernando Collor ou Luiz Inácio Lula da Silva. Com a vitória do primeiro, o partido passou a fazer-lhe oposição.

O PMDB hoje
Com a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 1º de janeiro de 2003, houve gestões para agregar o partido à coalizão situacionista, entretanto as negociações só viriam a se concretizar em janeiro do ano seguinte quando foram oferecidos ao PMDB os ministérios das Comunicações, Minas e Energia e Previdência Social. Lideranças antes alinhadas a Fernando Henrique se aproximaram do governo e assim José Sarney e Renan Calheiros (duas vezes) ocuparam a presidência do Senado entre 2003/2007 e João Henrique a presidência dos Correios.
            No segundo mandato de Lula, o partido perdeu a Previdência Social, mas foi contemplado com Gedel Vieira Lima no Ministério da Integração Nacional e com a escolha de Nelson Jobim para o Ministério da Defesa. Ao todo, o PMDB detém seis ministérios. Hoje, o maranhense José Sarney preside o Senado e o paulista Michel Temer preside tanto a Câmara dos Deputados quanto o partido e foi eleito vice-presidente de Dilma Rousseff. Além disso, o PMDB já articula com outros partidos a formação de um bloco para ter mais poder no futuro governo. 

Nenhum comentário: