Alisson Reis e Marcos Paulo
Às 20h05m, do dia 31 de outubro de 2010, era anunciada uma nova etapa na história política brasileira com a eleição da primeira mulher a ocupar o cargo de presidente da República. Após uma disputa acirrada, com acusações pesadas no segundo turno, Dilma Rousseff (PT) ganhou a eleição com 56% (55.752.529 milhões) contra 44% (43.711.388 milhões) do candidato da oposição, José Serra (PSDB), considerando-se os votos válidos. Com 100% das urnas apuradas antes da meia noite de domingo, era consolidada a ampla maioria do PT e seus aliados no Congresso Nacional. A base aliada de Dilma, que também recebe o apoio do PP, conseguiu eleger 16 dos 27 governadores, 352 dos 513 deputados federais e 53 dos 81 senadores, consolidando maioria numérica.
A eleição de 2010, assim como na disputa de 2006, caracterizou-se por uma forte polarização entre o PT e o PSDB. No entanto, neste pleito, houve uma grande surpresa. Diferentemente do que apontavam os institutos de pesquisa no primeiro turno, a candidata Marina Silva (PV), que aparecia com média de 10% das intenções de voto, ultrapassou significativamente a margem de erro, conquistando quase 20 milhões de votos, dobro do previsto, o que forçou uma disputa de segundo turno entre Serra e Dilma, líderes nas intenções de voto. O PT e seus aliados esperavam uma vitória no primeiro turno, já que a candidata Dilma liderava as pesquisas com folga até uma semana antes da eleição. Quanto aos resultados, no primeiro turno, Dilma Rousseff obteve 46,9% dos votos, que correspondem a uma soma de 47.651.434 votos, enquanto Serra teve 32,6%, totalizando 33.132.283 votos.
A disputa para os governos estaduais foi decidida no primeiro turno em 18 estados. O PT e seus aliados venceram em 11 disputas, mas perdeu para o PSDB nos dois maiores colégios eleitorais: em São Paulo, com a vitória de Geraldo Alckmin e, em Minas Gerais, com Antônio Anastasia. Em nove Estados, a disputa foi decidida no dia 31 de outubro. No segundo turno, os aliados de Dilma garantiram vitória em mais cinco estados, enquanto a oposição venceu em três. O PT elegeu cinco governadores: Rio Grande do Sul, Bahia, Distrito Federal, Acre e Alagoas. No Congresso Nacional, o PT saiu numa posição bastante favorável. A partir de 2011, a correlação de forças no Senado mudará, já que o partido passou a contar com treze senadores, cinco a mais do que a atual representação. Já na Câmara, o PT voltou a ter a maior bancada elegendo 88 deputados federais. Em relação aos deputados estaduais e distritais, o PT elegeu 23 a mais que em 2006 e superou o PMDB, contando com o maior número de vagas nas Assembleias com 149 deputados estaduais e distritais. No primeiro turno em Minas Gerais, Dilma Rousseff teve um milhão e seiscentos mil votos de frente, vencendo Serra em 680 municípios, ou seja, em 79,7% dos municípios mineiros.
De acordo com o vice-prefeito de Barbacena, Edson Rezende de Morais (PT), a vitória da Dilma no segundo turno se deve, principalmente, à atuação da militância petista e aos avanços do governo Lula. “A militância do PT, indo para a rua e comparando os dois modelos e projetos de governo, pôde esclarecer a população que o governo Lula mudou a cara do país, dando oportunidade aos trabalhadores, estudantes, aposentados, pessoas com deficiência, aos que passavam fome com o Bolsa Família, enfim, mudou a questão da democracia”, completou.
PT cresce no Campo das Vertentes, mas perde em São João del-Rei
No primeiro turno, na mesorregião do Campo das Vertentes, o partido venceu em 30 dos 36 municípios. No entanto, das três cidades pólo, perdeu em duas. Em São João del-Rei, no primeiro turno, Serra teve 38% contra 36,14% de Dilma Rousseff de um total de 61 mil e 296 eleitores. Em Lavras, o tucano chegou a 40,8% contra 38,2% da petista de um total de 66 mil e 200 eleitores. Já, em Barbacena, que é o maior colégio eleitoral da mesorregião e cidade natal do ex-candidato ao governo de Estado Hélio Costa, apoiado pelo PT, Dilma alcançou 53,9% contra 26% de Serra de um total de 92 mil e 791 votantes.
Das 15 cidades pertencentes à Associação dos Municípios da Microrregião dos Campos das Vertentes (Amver), a petista venceu em oito (abaixo tabela com os números eleitorais do 2º turno). Para o presidente do partido em Minas Gerais, Reginaldo Lopes, deputado federal reeleito, o PT, apesar de administrar apenas quatro prefeituras e três vice-prefeituras no Campo das Vertentes, vem ampliando sua influência na região. “O PT, a cada dia, tem conquistado mais espaço. Nós estamos conquistando vereadores em todas as câmaras, conquistando prefeituras, vice-prefeituras. A nossa votação como deputado federal tem aumentado a cada eleição. A nossa base social, os movimentos sociais e a militância têm participado ativamente de vários movimentos e de diversos setores da sociedade civil organizada. Então estamos construindo, a partir da militância, uma presença muito forte nos municípios da região do Campos das Vertentes”, ressaltou.
Em São João Del Rei, o PT foi fundado em 1980 por Antônio Fuzzatto e Luiz Cardoso. Fuzzatto tem uma carreira política ativa e sempre ocupou cargos na direção do partido desde a sua fundação na cidade. Ele já foi deputado estadual e vereador em São João del-Rei em dois mandatos. Na última eleição municipal, o PT lançou Cristiano Silveira, que ficou em segundo lugar, com 12.600 votos, que corresponde a 25,38% do eleitorado. Ele não entrou na disputa em 2010, porque pretende se candidatar novamente em 2012.
Votação no Campo das Vertentes
Cidade | 1º turno (votação) | 2º turno | OBS |
Barroso | Dilma – 6.805 – 56,72% Serra - 3.500 - 29,17% Marina- 1.605 – 13,38% | Dilma - 7.852 – 64,96% Serra - 4.235 - 35,04% | Dilma vence nos dois turnos |
Carrancas | Serra – 1.168 – 49,22% Dilma - 926 - 39,02% Marina - 264 – 11,13% | Dilma – 1.234 – 51,35% Serra - 1.169 - 48,65% | Dilma vira e vence no 2º turno |
Conceição da Barra de Minas | Serra – 1.270 – 47,98% Dilma– 1.169 - 44,16% Marina - 183 – 6,91% | Serra – 1.344 – 50,36% Dilma– 1.325 - 49,64% | Serra vence nos dois turnos |
Coronel Xavier Chaves | Dilma– 975 - 46,03% Serra – 683 – 32,25% Marina - 436 – 20,59% | Dilma – 1.152 – 54,99% Serra - 943 - 45,01% | Dilma vence nos dois turnos |
Lagoa Dourada | Serra – 3.068 – 44,91% Dilma– 3.062 - 44,82% Marina - 628 – 9,19% | Dilma – 3.598 – 50,55% Serra - 3.520 - 49,45% | Dilma vira e vence no 2º turno |
Madre de Deus de Minas | Dilma– 1.842 – 58,79% Serra – 1.036 – 33,07% Marina - 237 – 7,56% | Dilma – 1.884 – 60,44% Serra - 1.233 - 39,56% | Dilma vence nos dois turnos |
Nazareno | Dilma– 2.457 – 54,45% Serra – 1.587 – 35,17% Marina - 445 – 9,86% | Dilma – 2.909 – 64,06% Serra - 1.632 - 35,94% | Dilma vence nos dois turnos |
Piedade do Rio Grande | Dilma– 1.304 – 50% Serra – 1.003 – 38,46% Marina - 279 – 10,70% | Dilma – 1.489 – 53,81% Serra - 1.278 - 46,19% | Dilma vence nos dois turnos |
Prados | Serra – 2.225 – 44,64% Dilma– 2.183 - 43,80% Marina - 526 – 10,55% | Serra – 2.637 – 50,81% Dilma– 2.553 - 49,19% | Serra vence nos dois turnos |
Resende Costa | Dilma– 3.104 – 47,43% Serra – 2.566 – 39,21% Marina - 803 – 12,27% | Dilma – 3.736 – 56,38% Serra - 2.891 - 43,62% | Dilma vence nos dois turnos |
Ritápolis | Serra – 1.519 – 46,50% Dilma– 1.352 - 41,38% Marina - 355 – 10,87% | Serra – 1.643 – 50,08% Dilma– 1.638 - 49,92% | Serra vence nos dois turnos |
Santa Cruz de Minas | Serra – 2.051 – 42,87% Dilma– 1.797 - 37,56% Marina - 883 – 18,46% | Serra – 2.445 – 50,73% Dilma– 2.375 - 49,27% | Serra vence nos dois turnos |
São João del-Rei | Serra – 19.664 – 38,88% Dilma–18.277 - 36,14% Marina-11.784 – 23,30% | Serra – 25.728 – 51,59% Dilma–24.144 - 48,41% | Serra vence nos dois turnos |
São Tiago | Serra – 2.992 – 47,83% Dilma– 2.312 - 36,96% Marina- 895 – 14,31% | Serra – 3.512 – 54,73% Dilma– 2.905 – 45,27% | Serra vence nos dois turnos |
Tiradentes | Serra – 1.693 – 40,17% Dilma– 1.564 - 37,11% Marina- 931 – 22,09% | Serra – 2.331 – 55,12% Dilma– 1.898 – 44,88% | Serra vence nos dois turnos |
A história do partido de Lula
Desde o golpe militar de 1964, o sistema partidário brasileiro havia se reduzido à bipolarização entre Arena e MDB. No entanto, no final da década de 70, em meio às profundas transformações sociais vividas pelo país, um grupo de sindicalistas, intelectuais, políticos e representantes de movimentos sociais do ABC paulista, perseguido pelo regime militar, assumiu publicamente o desejo de se fundar um partido feito pelos trabalhadores e para os trabalhadores.
Mas a construção de uma nova proposta partidária não aconteceu do dia para noite, pois exigiu muita discussão e amadurecimento democrático. Um dos fatos mais expressivos aconteceu no dia 24 de janeiro de 1979 durante o IX Congresso de Trabalhadores Metalúrgicos, Mecânicos e de Material Elétrico do Estado de São Paulo. Lideranças e ativistas dos movimentos social e sindical aprovaram a proposta feita pelos metalúrgicos de Santo André conclamando todos os trabalhadores brasileiros a se unificarem na construção de seu partido, o Partido dos Trabalhadores.
Nesse mesmo ano, no dia 1 de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, foi lançada a Carta de Princípios do PT, documento em defesa da democracia participativa, organizada e consciente. Em outubro, uma reunião envolvendo 130 representantes de seis estados, apresentava oficialmente o Movimento Pró-PT. Na ocasião, aprovou-se a Declaração Política, que propunha uma plataforma identificada com os anseios dos movimentos populares e contrária à reforma partidária imposta pelo regime. Dezessete responsáveis pela direção do Movimento Pró-PT elegeram a Comissão Nacional Provisória.
Porém, em novembro de 1979, o Congresso Nacional aprovou a nova legislação, fortalecendo a organização de partidos tradicionais na história do Brasil e criando uma série de formalidades que dificultavam a legalização do PT. Após muitas batalhas, no dia 10 de fevereiro de 1980, formou-se o PT, nascido de baixo para cima, diferente de todos os que haviam surgido no Brasil. As suas características fundamentais incluíam ser um partido classista, de massas, de lutas, democrático e socialista. O ato aconteceu no auditório do Colégio Sion, em São Paulo, onde foi aprovado, por aclamação, o Manifesto do PT, reunindo 1200 pessoas. Comissões regionais de 17 estados brasileiros iniciavam a organização do novo partido pelo país.
Porém, em novembro de 1979, o Congresso Nacional aprovou a nova legislação, fortalecendo a organização de partidos tradicionais na história do Brasil e criando uma série de formalidades que dificultavam a legalização do PT. Após muitas batalhas, no dia 10 de fevereiro de 1980, formou-se o PT, nascido de baixo para cima, diferente de todos os que haviam surgido no Brasil. As suas características fundamentais incluíam ser um partido classista, de massas, de lutas, democrático e socialista. O ato aconteceu no auditório do Colégio Sion, em São Paulo, onde foi aprovado, por aclamação, o Manifesto do PT, reunindo 1200 pessoas. Comissões regionais de 17 estados brasileiros iniciavam a organização do novo partido pelo país.
De 1980 até meados da década de 90 do século XX, o Partido dos Trabalhadores priorizou a formação de suas grandes lideranças esquerdistas, com perfis bem radicais, de acordo com a política inicial cobrada e defendida pelo partido, que incluía temas polêmicos como o não pagamento da dívida externa, reforma agrária mais audaciosa, taxação sobre grandes fortunas. No entanto, com o passar da década de 90, após derrotas seguidas de Lula, em disputas presidenciais, o partido passou a enxergar que não conseguiria alcançar grandes cargos e vencer eleições federais, persistindo em tal postura. O processo de descentralização ideológica do partido começou a ser consolidado a partir de sua aproximação, primeiramente, do PDT, depois do PMDB, principalmente na eleição de 1998.
O radicalismo petista cedeu espaço para o incentivo de uma política em que o diálogo aberto e os acordos com a elite brasileira se fazem necessário. A mudança surtiu efeito. O partido ganhou força e finalmente em 2002 conseguiu eleger seu grande líder, Luís Inácio Lula da Silva. Em 2006, mesmo com vários escândalos de corrupção como o mensalão, Lula se reelegeu presidente da República.
Passados oito anos, Lula tornou-se uma das maiores lideranças políticas não só do país, mas do mundo. No Brasil, as pesquisas apontam uma aprovação de mais de 80% entre os eleitores. As principais ações deste governo têm sido conciliar a estabilidade econômica com políticas sociais por meio do controle inflacionário, da geração de empregos e de programas como o Bolsa Família. Para a disputa eleitoral deste ano, o PT aliou-se a outros nove partidos, dentre eles o de maior representatividade no Congresso Nacional, o PMDB. Lula, desde 2009, começou a preparar a sua candidata, Dilma Rousseff, então ministra-chefe da Casa Civil. Teve fortes resistências dentro do PT e junto aos aliados para emplacar o nome da candidata, mas a sua forte liderança acabou prevalecendo. A vitória de Dilma coroa os esforços de Lula que foi o seu principal cabo eleitoral.
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