Carolina Slaibi, Eduardo Maia, Rômer Castanheira
O Partido Verde (PV), que nas disputas eleitorais sempre amargou derrotas e ficava na lista dos partidos menos votados, conseguiu sair do ostracismo na eleição presidencial de 2010, quando a ex-senadora e candidata Marina Silva obteve cerca de 20 milhões de votos. Ficou em terceiro lugar e a sua votação expressiva, principalmente, nos grandes centros urbanos, foi considerada um fator decisivo para impedir a vitória da candidata do PT, Dilma Rousseff, no primeiro turno.
A votação surpreendente de quase 20 milhões obtida por Marina Silva deu visibilidade ao Partido Verde. No entanto, ao analisar os resultados nas disputas de 2010, é possível verificar que se os verdes tiveram esta votação surpreendente para a Presidência, continuou com números inexpressivos em relação aos outros cargos. O partido foi o que mais registrou candidaturas na eleição de 2010, superando, inclusive o PT e o PMDB. Segundo o jornal O Tempo, houve um aumento de 40,3% no número de concorrentes nos diferentes cargos disputados. O PV lançou 1.363 candidaturas.
Mas o alto número de candidatos não surtiu o mesmo efeito no número de eleitos. Na disputa pelo Senado, o partido não elegeu nenhum dos doze candidatos divididos pelo país, que concorreram a uma vaga na casa. O cenário estadual não foi diferente. Dos 11 candidatos que reforçaram o palanque de Marina em âmbito estadual, nenhum obteve a vitória.
Na disputa pela vaga de Câmara dos Deputados, o partido não registrou grandes alterações no cenário atual, decorrente das eleições de 2006. Foram eleitos apenas 15 deputados federais contra 13 no ano de 2006, uma mudança que não foi expressiva, como divulgado pelo partido. Nas Assembleias Legislativas, o PV aumentou em apenas quatro deputados, quando elegeu seus 37 nomes contra 34 na eleição passada. Os estados em que o partido teve maior votação foram o Acre, terra da candidata Marina Silva, e São Paulo, elegendo nove deputados cada.
Disputa no segundo turno revela ambiguidades do Partido Verde
No segundo turno, quando havia uma grande expectativa sobre o apoio do PV e da candidata derrotada Marina Silva a um dos candidatos, o partido mostrou-se ambíguo. Em convenção, no dia 17 de outubro, domingo, a duas semanas da eleição, os verdes optaram pela neutralidade. A maioria do partido votou para que o Partido Verde ficasse neutro, sendo que quatro dos inscritos para votar tiveram posição diferente, dos 92 integrantes.
A candidata Marina Silva leu carta aberta com críticas, ao que chamou de "dualidade destrutiva" entre PT e PSDB. Segundo a candidata, os dois partidos pregam a "mútua aniquilação" na disputa entre Dilma e Serra. Marina defendeu o que preferiu chamar de posição de independência: “Essa decisão não foi fácil, não é fortuita. Faz parte de um intenso diálogo com a sociedade, com o partido, com nossos interlocutores. Enfim, tanto do lado da ministra Dilma quanto do lado do governador Serra”, afirmou. “O segundo turno é uma nova chance para todos. Para candidatos e coligações, comprometerem-se com propostas e programas que possam sair das urnas, legitimadas por um vigoroso pacto social entre eleitos e eleitores”, declarou Marina.
Vários diretórios e lideranças do partido declararam apoio ao candidato José Serra. O candidato do PV ao governador do Rio de Janeiro, o deputado Fernando Gabeira, confirmou no dia 4 de outubro o apoio ao tucano José Serra no segundo turno presidencial. A participação de Gabeira na campanha de Serra dependeria de uma conversa do deputado com a senadora Marina Silva (PV), terceira colocada na eleição presidencial. "Minha posição é de apoiar Serra não só porque ele me apoiou, mas porque o considero o melhor candidato", revelou Gabeira.
Outros, no entanto, optaram pela candidatura de Dilma Rousseff, como o candidato derrotado ao governo de Minas pelo PV, José Fernando Aparecido, que afirmou que a sua opção por Dilma foi feita após uma negociação, na qual a campanha da petista teria se comprometido a incluir no programa questões específicas de políticas na área de mineração. “Até agora não fui procurado pelo PSDB, mas eu defendo essa pauta há anos aqui no estado”, declarou Aparecido.
O cantor e compositor, Gilberto Gil, que é filiado ao PV e foi ministro da Cultura do governo Lula entre 2003 e 2008, declarou seu voto em favor de Dilma antes da reunião de apoio do PV. "Eu votei em Marina, sou do Partido Verde, é a candidata do Partido Verde. Vou votar em Dilma no segundo turno. Convivi com ela em ambiente de governo, em situação, enfim, de ministério, que decisões precisavam ser tomadas, que a disputa pelo orçamento se dava, e ela sempre tratou o Ministério da Cultura com muito respeito, muito apreço, dando a ele muita importância", declarou Gilberto Gil. O teólogo Leonardo Boff, um dos criadores da teologia da libertação e pessoa fundamental na introdução da senadora Marina Silva na política, também aderiu à campanha de Dilma Rousseff. “Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva”, afirmou Boff em mensagem publicada no site Carta Maior.
Ângela Mendes, filha de Chico Mendes, líder seringueiro no Acre, morto em 1988 e amigo de Marina, participou do ato de Dilma. Ela afirmou que estava ao lado da petista no segundo turno por “coerência”. A filha de Chico Mendes destacou ter votado em Marina no primeiro turno, mas que o PT e Dilma tinham mais identidade com a causa ambiental e uma ligação mais próxima com seu pai.
Durante o evento do discurso de neutralidade ficou explicito o plano de ter Marina Silva na disputa pelo Palácio do Planalto em 2014. A pastora Valnice Milhones, da Igreja Nacional do Senhor Jesus Cristo, uma das lideranças religiosas que apoiou a presidenciável verde, chegou a lançar a candidatura para a próxima eleição. “A convenção não é o fim. É o começo. 2014, Marina presidente”, afirmou sendo aplaudida com entusiasmo. Para o candidato a vice na chapa de Marina Silva, o empresário Guilherme Leal, a posição de independência permitirá "criticar quando for preciso e apoiar quando necessário" o futuro governo.
As pesquisas de opinião, no entanto, revelavam que Serra tinha uma maior preferência entre os eleitores de Marina Silva. Serra herdou a maioria dos votos declarados no primeiro turno para a candidata do PV, Marina Silva. Pela nova pesquisa do Datafolha, realizada entre os dias 28 e 29 de setembro, Serra apareceu com 51% dos quase 20 milhões de votos dados a Marina, enquanto Dilma teve 22%.
A trajetória do PV no Brasil: de um grupo de intelectuais e ambientalistas a um partido sem uma ideologia definida
O Partido Verde surgiu a partir de um grupo de ecologistas denominado United Tasmanian Group, em 1972, na Tasmânia (Austrália). O objetivo era impedir o transbordamento do Lake Pedder. Mais Tarde, o grupo adotou o nome de Green Party e está constituído em mais de 120 países. Na Europa, o Partido Verde começou nos anos 70 e se consolidou como partido político nos anos 80. Atualmente, o PV é elenco de vários governos e é a quarta maior bancada no Parlamento Europeu. O Partido Verde está organizado em quatro federações: a Federação Européia dos Partidos Verdes, a Federação dos Partidos Verdes das Américas, a Federação dos Partidos Verdes da África e a Federação dos Partidos Verdes da Ásia e Oceania.
No Brasil, a primeira manifestação político partidária com o nome de Partido Verde ocorreu em 1982, no Estado do Paraná. Hamilton Vilela de Magalhães, candidato a deputado federal pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), utilizou em sua propaganda, principalmente na televisão, o nome do Partido Verde e uma baleia como símbolo. Essa, no entanto, foi uma manifestação isolada. O Partido Verde brasileiro surgiu no Rio de Janeiro, em 1986. O grupo foi composto por ambientalistas, ativistas de outros movimentos sociais, intelectuais e artistas. Entre as lideranças mais expressivas estavam Carlos Minc (ex-ministro da Cultura no governo Lula e atual candidato a deputado federal pelo PT-RJ), Alfredo Sirkis (candidato à presidência da República pelo PV em 1998, ficando em 6º lugar), o ambientalista Herbert Daniel, o engenheiro civil Guido Gelli, a atriz Lucélia Santos e Fernando Gabeira (ex-exilado político, deputado federal e candidato ao governo do Rio de Janeiro pelo PV em 2010), Domingos Fernandes (ex-exilado político e candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro em 2006), José Luiz de França Penna (ambientalista e vereador eleito em 2008 pelo PV), Sarney Filho (ministro do Meio Ambiente de 1999 a 2002, no governo Fernando Henrique Cardoso, e atual deputado federal) e a Marina Silva (ministra do Meio Ambiente no governo Lula e atual candidata à Presidência da República pelo PV).
Mesmo legalizado, o PV não participou das eleições de novembro de 1986. Apesar disso, no Rio de Janeiro, em uma aliança informal com o PT, o então líder verde, Fernando Gabeira, disputou as eleições para governador do Estado. Pela primeira vez no Brasil, nas tevês e nas ruas, foram vistas atitudes não conservadoras, além de manifestações por uma política predominantemente ecológica. A reação foi hostil, e a candidatura Verde enfrentou uma oposição forte através da mídia conservadora. Nessa eleição, Fernando Gabeira obteve 7,8% dos votos e ficou em terceiro lugar. Os verdes elegeram também seu primeiro deputado estadual, Carlos Minc.
Em 1988, o PV conseguiu o registro provisório e elegeu apenas 20 vereadores no país, distribuídos nos estados do Rio de Janeiro, Santa Catarina, São Paulo e Paraíba. Tinha, no entanto, o apoio do líder ambientalista do Acre Chico Mendes, assassinado naquele ano. Em 1989, na primeira eleição direta para a presidência depois da ditadura, 23 candidatos disputaram o pleito. O PV, em função de conflitos internos, decidiu lançar Fernando Gabeira, que teve apenas 125.842 votos, ficando em 18º lugar (com menos de 1% dos votos). Uma ala do partido defendia a aliança com o PT. Em 1990, o PV teve o seu registro cassado e não concorreu nas eleições.
Na eleição de 1992, o PV conseguiu eleger 54 vereadores no país e três prefeitos em pequenas cidades de São Paulo. Em 1993, o partido obteve o seu registro definitivo. Na disputa presidencial de 1994, o PV coligou-se à frente de esquerda e apoiou a candidatura de Lula (PT). Elegeu o seu primeiro deputado federal – Fernando Gabeira (PV-RJ) e três deputados estaduais (Minas Gerais, Paraíba e São Paulo).
Nas eleições municipais de outubro de 1996, o PV elegeu 13 prefeitos em pequenas cidades dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais; 189 vereadores distribuídos em 15 estados da federação. Em dois municípios de São Paulo, os prefeitos do Partido Verde fizeram seus sucessores. A maior cidade com uma administração do PV, até então, passara a ser Rio Claro, no Estado de São Paulo, com uma população de 160 mil habitantes, e posteriormente, Guarulhos (1998), também no Estado de São Paulo, com uma população 1,1 milhão de habitantes (o vice-prefeito do Partido Verde assumiu o cargo deixado pelo prefeito em exercício).
O PV manteve-se no ostracismo com baixa representatividade. Na eleição de 1998, lançou Alfredo Sirkis como candidato à Presidência, ficando em 6º lugar, com uma votação inexpressiva (212.984 votos). Na disputa, Fernando Henrique Cardoso saiu vitorioso no primeiro turno (35 milhões de votos), seguido de Luís Inácio Lula da Silva (21 milhões de votos). Em terceiro lugar, ficou Ciro Gomes (PPS), com 7 milhões de votos. Enéas (PRONA), em quarto lugar, teve 1.447.090, seguido de Ivan Frota (PMN), com 251.337 votos. Gabeira, uma das principais lideranças do PV, tinha rompido com a agremiação e se elegeu novamente deputado federal pelo PT.
Em 2000, o PV obteve uma votação mais expressiva nas disputas municipais, chegando a 1,8 milhões de votos para prefeitos e vereadores. Mas o partido somente elegeu 13 prefeitos no país e ampliou para 315 o número de vereadores. Em 2002, a sigla elegeu cinco deputados para a Câmara Federal (2 por São Paulo, 1 pelo Rio de Janeiro, 1 pela Bahia e 1 por Minas Gerais). Foi quando Gabeira rompeu com o PT e retornou ao PV, garantindo o seu terceiro mandato de deputado federal. Na disputa pela Presidência, o Partido Verde teve uma posição de neutralidade, não lançando nenhum candidato nem participando de nenhuma coligação.
Se desde a sua fundação o PV, apesar da baixa representatividade, procurou manter uma linha ideológica mais consistente, principalmente, em defesa do meio ambiente e de causas sociais, em 2004, o partido fechou alianças com diferentes partidos e conseguiu visibilidade. O Partido Verde elegeu 56 prefeitos, 68 vice-prefeitos e 772 vereadores. Em 2005, a bancada federal do PV passou a ser composta por oito deputados, cumprindo o desafio de obter 5% dos votos válidos no país para Câmara dos Deputados. O PV integrou, também, o Governo do presidente Lula tendo como principais representantes, Gilberto Gil (ex-ministro da Cultura) e Juca Ferreira (ministro da cultura desde 2008).
Em 2006, o PV afastou-se dos antigos aliados de centro-esquerda como o PT e aproximou-se de partidos de oposição ao governo Lula, como o PSDB e o Democratas. Elegeu 14 deputados federais, sendo cinco de São Paulo, quatro de Minas Gerais, dois da Bahia, um do Rio de Janeiro, um de Roraima e um do Maranhão, além de 33 deputados estaduais. Em Minas Gerais , o PV também está dividido, sendo que parte dos deputados eleitos é aliada do ex-governador Aécio Neves (PSDB) e não está ligada às questões ambientais. No Rio de Janeiro, Gabeira é hoje aliado dos tucanos e dos democratas.
Nas eleições municipais de 2008, em Natal, capital do Rio Grande do Norte, os verdes conseguiram eleger, pela primeira vez um prefeito em uma capital brasileira, a prefeita Micarla de Sousa, pelo 1º turno com 51% dos votos. Em 2009, a fundadora Maria de Lourdes Pinheiro Simões, além de outros ecologistas, afastou-se do PV. Nesse mesmo ano, o partido passou a ter como filiado em defesa do meio ambiente, Marina Silva. Desde então, o PV está organizado em todos os Estados da Federação.
A criação do LIVRE
Formado por dissidentes do PV de 15 Estados, que discordam do rumo da legenda nos últimos anos, o Partido Livre realizou seu primeiro encontro nacional no dia 22 na Câmara Municipal de Belo Horizonte. O Partido Livre, que está em processo de legalização, deve ser o vigésimo oitavo partido político brasileiro registrado junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O presidente do novo partido em Minas Gerais e um dos fundadores do PL, Carlos Magno Taborda, disse ao Portal Terra que uma das razões que levou o grupo, formado basicamente por jornalistas e acadêmicos, a fundar o partido é porque eles "não aceitaram o fato do PV colocar Marina Silva como pré-candidata à presidência".
O primeiro encontro nacional do Livre irá formalizar o apoio do novo partido à candidata à presidência Dilma Rousseff (PT). Os militantes se encontraram com a petista, no Rio de Janeiro, e decidiram pela manifestação a favor da ex-ministra. "Entre os três pré-candidatos, acreditamos que a Dilma se identifica mais com nossas ideias", declarou o líder do novo partido em Minas. De acordo com Taborda, o novo partido já somou mais de 100 mil assinaturas desde novembro de 2009. "Esperamos nos registrar no TSE em dezembro deste ano", afirmou. A Executiva Nacional do Livre é formada por membros de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraíba e Espírito Santo.
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