quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Eleição municipal de 2012

Críticas ao prefeito Adilson Resende antecipam disputa pela Prefeitura de Resende Costa e revelam racha no PT



Emanuelle Ribeiro e Rhonan Moreira

Faltando um ano para a ocorrência das eleições municipais em todo o Brasil, a atual administração na cidade de Resende Costa passou a ser alvo de críticas das mais diferentes forças políticas, inclusive de aliados do próprio Partido dos Trabalhadores (PT), agremiação à qual o prefeito Adilson Resende pertence. Desde as eleições de 1992, a legenda não assumia o executivo, que de 1997 a 2008 foi comandado por representantes da oposição direta, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Mas, em 2008, quando quatro candidatos disputaram a prefeitura da cidade, o petista saiu vitorioso nas urnas, com 2.366 votos.
Passados quase três anos da gestão de Adilson Resende, a insatisfação dos grupos políticos com a sua administração gera críticas e o prefeito hoje precisa conseguir superar as resistências que já existem dentro do próprio PT quanto ao seu nome para uma possível candidatura à reeleição. O advogado Cláudio Resende, que foi o candidato em 2008 pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), é um dos que assume um tom mais crítico em relação ao governo municipal. “Começando pela campanha, infelizmente ele prometeu demais e eu sabia que ele não teria condições de cumprir o programa de governo que prometeu. E fazer promessa e não cumprir é desonestidade”, declarou Resende.
O pedetista, que é um dos nomes cotados para disputar a Prefeitura de Resende Costa novamente em 2012, afirma que não acredita na reeleição de Adilson. Ele revela que há muita discussão interna no PT para a escolha de um nome e nem sempre o nome que é lançado agrada a maioria: “O (nome) do Adilson não agradou nem as lideranças do diretório. No entanto, a fidelidade extremada do PT faz com que o voto seja no partido, não no nome. Assim, o candidato que for lançado tem um percentual garantido de votos, o que é um erro”, criticou.
       Gilberto Pinto, líder do executivo por três mandatos e principal nome do PSDB na cidade, é objetivo e faz críticas a uma certa postura autoritária do prefeito. “O que eu acho que falta na administração do Adilson é uma postura mais democrática”, define ele. Segundo Gilberto Pinto, o governo atual, em sua visão política, está em conflito com grupos do PT e da esquerda. Para ele, o governo petista perde porque é muito radical. “Resende Costa é administrada com muito autoritarismo e perde, ainda, em razão da composição de governo, pois acredita que para se conduzir uma cidade é preciso estar cercado de pessoas competentes e isso não acontece com a atual administração, porque para compor o governo que aí está só é exigida uma condição: portar uma estrelinha na camisa, na blusa, no paletó”, alfinetou.
       O ex-prefeito chama a atenção para a falta de coerência do petista, o que ele considera um ponto crítico para um administrador. De acordo com Gilberto Pinto, o político correto nunca pode ter duas visões, pois, quando se está na oposição, enxerga a questão de uma forma e, por outro lado, quando se está na situação, sua forma de ver o problema é outra. “O atual prefeito enquanto oposição teve uma visão, enquanto situação ele tem outra. Falta coerência”, acrescentou.
       Se a reforma política que deve ser votada no Congresso pretende fortalecer os partidos e estimular as ligações partidárias, o tucano Gilberto Pinto tem outra visão e questionou a fidelidade partidária, principalmente por parte dos filiados aos PT. “Quando você fala que o pessoal vota no partido isso é comum mais na extremidade, principalmente na extrema esquerda. Tem gente que já disse que gostaria de votar em mim, mas não votou porque era vinculada ao PT. Eles não só cobram, mas punem os eleitores. Isso é errado. Eu mesmo já votei no Lula”, concluiu o líder tucano.

Candidatura de Adilson à reeleição é criticada por adversários e até por petistas

       Antônio Silva Ribeiro, conhecido na cidade por Toninho Ribeiro, candidato nas últimas eleições pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), caracteriza a atual administração como um “governo feijão com arroz” e considera que, em Resende Costa, vem sendo feita uma administração simplória, com a ausência de uma visão ampla por parte do administrador, e estabelece um comparativo entre Adilson Resende quando vereador e agora como prefeito: “É como se fosse uma administração de pequenos favores. O Adilson está longe daquele vereador que usava da palavra para criticar a situação da época. Hoje ele repete os erros que tanto criticava”, afirmou.
       Toninho Ribeiro não considera Adilson um político popular e muito menos um nome forte para a reeleição. Para ele, enquanto oposição, o PT batia o tempo todo na situação e, hoje, como situação, apanha: “Desgaste é normal, natural, mas não se pode ter um desgaste tão negativo quanto está tendo agora”, destacando uma possível insatisfação popular com a administração petista.
       O jornalista resende-costense André Eustáquio, do Jornal das Lajes, fez uma análise mais abrangente do panorama político da cidade. Para ele, o discurso de renovação do PT no pleito de 2008 gerou uma grande expectativa nos eleitores. “Falava-se desde a renovação da equipe de governo até a maneira de gerir o município. E eu, particularmente, percebo que houve, até esse ponto do mandato, uma certa frustração de muitos, porque não houve esse choque que se pregou”, analisou o jornalista. Para ele, percebe-se uma certa continuidade dos trabalhos das outras administrações, com alguns investimentos, apoios, mas nada que os demais governos não viessem fazendo.
       Em relação ao nome de Adilson, André Eustáquio declarou que ficaria surpreso se Adilson não se lançasse à reeleição, por dois motivos: “Primeiro porque se ele desistir, ele assina o fracasso da sua administração. E depois porque ele (Adilson) tem o domínio da cúpula partidária do PT na cidade”, explicou. O jornalista disse que não enxerga nada que manche a imagem do prefeito, sobretudo no aspecto moral e de gestão, apesar do desgaste político pelo qual vem passando a administração. Ele também não acredita num racha extremo no PT da cidade, mas percebe uma ala de lideranças insatisfeitas com o atual modelo de administração, não sabendo qualificar os motivos dessa cisão. No lado da oposição, André destaca o nome de Gilberto como principal concorrente do PT nas próximas eleições municipais e não descarta alianças, apesar de não saber os rumos das costuras políticas: “Parece que o PSDB não quer correr o risco de uma chapa puro-sangue e podem haver alianças com outros partidos”, acrescentou.
       Um fato importante destacado pelos entrevistados é a polarização entre os partidos PT e PSDB em Resende Costa, o que reproduz uma tendência nacional. Essa situação provoca uma forte disputa entre os dois partidos nas eleições, que nunca consideram dar apoio a outros partidos, como PMDB e PDT. Para alguns líderes, esta rivalidade nem sempre é saudável. “Acredito que a administração atual se preocupa muito com a oposição do PSDB. É um reflexo da política nacional (...) a polarização PT X PSDB, mas acho que ela perde o foco. O PT de Resende Costa tem uma preocupação extremamente exagerada e sem necessidade com uma liderança do PSDB e se esquece de administrar”, declarou Cláudio Resende, do PDT, referindo-se ao ex-prefeito tucano, Gilberto Pinto.
       Partindo dessa polarização, os líderes da oposição entrevistados acreditam que uma avaliação negativa do governo do petista Adilson Resende fortalece o nome de Gilberto Pinto. Essa posição é adotada também pelo vereador Luiz Esequiel de Resende, o Bacarini, eleito pelo PT nas últimas eleições e que hoje faz oposição ao prefeito Adilson: “Eu acho que está na hora do PT assumir um pouco de humildade e de reconhecer valores de outros partidos, até apoiar um candidato de outro partido”, afirmou, deixando claro que existem divergências no seu partido. Para Bacarini, diante do desgaste da atual administração, Gilberto Pinto naturalmente se fortalece, mas faz críticas ao tucano. “Devolver a prefeitura para o Gilberto, no meu entender, é um retrocesso para Resende Costa. A administração dele foi uma catástrofe”, completou.
       Sobre o possível racha no PT resende-costense, Bacarini reconhece que o partido está passando por problemas.  “O partido está muito desorganizado. Não temos nos reunido, e o PT não tem cumprido o seu papel de partido, que é unificar as três instâncias - partido, administração e bancada legislativa”, avaliou. Em relação à eleição de 2012, o vereador é polêmico e afirmou que não considera o nome de Adilson Resende a melhor indicação do PT. “Acho que há uma tendência muito grande do partido a lançar outro candidato. A situação de reeleição, a recandidatura dele está praticamente comprometida, as pessoas percebem o desgaste da administração. A gente ouve coisas do tipo: ‘Adilson eles (eleitores) não querem nunca mais’, ‘Adilson não ganha nem para vereador, Adilson não ganha nem para conselheiro tutelar’. E é esquisito isso, porque é difícil ganhar para conselheiro tutelar”, completa o legislador.

Câmara Municipal
       Se Adilson Resende recebe críticas dos adversários que fazem uma avaliação negativa do seu mandato, a Câmara Municipal de Resende Costa também é alvo das lideranças políticas da cidade. Toninho Ribeiro, do PMDB, que esteve na Câmara por dois mandatos, enxerga os últimos três anos como uma das piores legislaturas que a cidade já teve: “Quando você sente que as pessoas não estão satisfeitas com o prefeito, geralmente com a Câmara também não estão. Uma é reflexo da outra”, afirmou. Já o tucano Gilberto Pinto é mais enfático em suas críticas: “Hoje, o Legislativo em Resende Costa é cego, surdo e mudo”.
       O vereador petista Bacarini rebate as declarações dizendo que os vereadores estão cumprindo o seu papel, mas o Executivo não tem dado a importância devida ao Legislativo, que tem um poder bastante limitado. Bacarini mostra-se contraditório e argumenta que os vereadores estão bem articulados. “Eu nunca vi aqui uma Câmara tão unida. O Adilson é um prefeito que consegue não ter nenhum líder de governo. Ninguém quer defender o governo dele na Câmara, nem mesmo nós que somos da bancada dele”, frisou Bacarini, destacando que, por outro lado, não há uma oposição forte contra o prefeito e que os vereadores trabalham sempre pensando no que é melhor para o município.
       O prefeito Adilson Resende considera a formação do atual Legislativo partidariamente representativa e admite que não ter um líder na Casa atrapalha, porque pode-se ter um projeto bom, mas não adianta se não há ninguém para defendê-lo: “Eles (vereadores) têm umas diferenças de disputa entre eles que não consigo entender. O que falta a eles são mais debates, eu acho que não tem cabimento uma Câmara em que um bate nas costas do outro e concorda com tudo”, declarou o prefeito. Para ele, os vereadores direcionam as discussões para coisas muito pequenas e o município perde com isso: “Às vezes envio um projeto bom para o município e eles ficam discutindo erros de digitação”.
       André Eustáquio, no que diz respeito ao Legislativo, assume uma opinião diferente dos demais e acredita que, das últimas Câmaras, a atual composição é a que faz mais oposição ao Executivo. Segundo o jornalista, não há uma oposição acirrada, de interesses partidários, mas os debates ocorrem, e a liderança do PT na Câmara não está vinculada aos interesses do prefeito. “O Bacarini, apesar de ser petista e correligionário do prefeito, é o maior opositor dele dentro da Câmara. Eu o destacaria como vereador de oposição e de atuação na Casa”, admitiu Eustáquio, que enfatizou ainda o interesse dos demais vereadores nos assuntos da cidade, sobretudo nas áreas de patrimônio e turismo.

Investimentos: educação e saúde
       Os principais investimentos da administração 2009-2012 dizem respeito ao setor de educação. Além de reformas em algumas escolas, o prefeito Adilson Resende ampliou a Escola Municipal Paula Assis, localizada na zona rural de Resende Costa, acrescentando o ensino médio e ainda conta com um projeto de implantação de ensino técnico na instituição. Além disso, o município adquiriu novos veículos, mais capacitados para transporte escolar e está construindo a Escola Pró-Infância, que irá atender crianças de 0 a 6 anos de idade.
       A oposição reconhece os avanços no setor de educação, mas afirma que isso reflete o cenário atual do país. “Tem uma área no município que caminha bem, que é a educação, mas isso está acontecendo no Brasil como um todo”, admite Gilberto Pinto, declarando que os investimentos em educação seguem uma tendência nacional. O peemedebista Toninho Ribeiro vê as reformas de escolas como uma obrigação do executivo. “Reforma de escola precisa ser feita. Não coloco isso como uma meta alcançada, como uma ação”, afirmou. No entanto, o pedetista Cláudio Resende destaca a competência do atual Secretário de Educação, Adriano Magalhães, enfatizando que os recursos direcionados para educação estão sendo bem empregados.
       O prefeito Adilson Resende destaca o setor da saúde como outra área na qual vem realizando investimentos. “Aumentei o número de consultas, exames, consegui 10 veículos para trabalharem em prol da Secretaria de Saúde. Estamos construindo o 2º PSF em Resende Costa, além do CRAS, que dará maior suporte ao setor. Em novembro, começa a funcionar o SAMU. Tem ainda o programa Coleta Seletiva, que é um dos nossos grandes projetos em assistência social”, explica o administrador. Já Cláudio Resende não concorda com o que vem sendo feito na área de saúde na cidade. “Na saúde, não serve de consolo o cenário nacional e estadual para achar que o da cidade está bom. Resende Costa está bem, mas ainda longe do que se precisaria ser”, criticou.
       Sobre o projeto do petista para a construção de uma clínica médica no município, o peemedebista Toninho Ribeiro prevê que a administração terá dificuldades para encontrar mão-de-obra especializada. “Essa clínica é a menina dos olhos deles (petistas) desde quando eles entraram lá. Hoje ninguém pode ganhar mais que o prefeito. Qual médico vai querer vir para Resende Costa para ganhar 3 ou 4 mil reais?”, questinou.
       Mas, sem dúvidas, a principal realização da atual administração consiste na implantação da rede de esgotos em Resende Costa: “Uma das maiores obras que Resende Costa já viu. Algo que já devia ter acontecido há mais tempo, mas faltou vontade”, afirmou o prefeito Adilson. E esse projeto gerou um custo maior do que o comum, já que a cidade foi construída em cima de rochas. Apesar de ser um grande investimento em saneamento básico, as obras da rede de esgotos vêm causando sérios problemas à população da cidade quanto à falta de planejamento desse projeto: “A cidade foi retalhada, há buracos por toda a parte. A culpa não é exclusivamente da Prefeitura, mas ela peca na fiscalização e cobrança junto à empresa responsável”, declarou Cláudio Resende.
       O jornalista André Eustáquio também destacou os investimentos na implantação da rede de esgotos, mas, como Cláudio, criticou a maneira como o Executivo vem conduzindo o processo: “Espera-se da Prefeitura uma fiscalização, sobretudo no que se diz respeito aos calçamentos. A insatisfação é geral na cidade”, frisou.
       Se os setores de educação e saúde são considerados áreas que foram priorizadas pelo atual prefeito, há críticas quanto à questão urbanística. E os transtornos da rede de esgotos se encaixam nesse setor, já que a maioria das reclamações gira em torno da má reparação dos calçamentos, da “destruição” das ruas, do desconforto visual que isso causa na cidade. “O calcanhar de Aquiles da administração dele é o urbanismo, o desgaste maior é em obras. Isso é um absurdo, porque a rua, o bairro, é a extensão do lar do indivíduo”, criticou o vereador Bacarini.
       Embora seja visível o descaso com o urbanismo, agravado pela falta de um Plano Diretor na prefeitura, o prefeito Adilson Resende explica que é preciso investir em infraestrutura, principalmente pelo fato de Resende Costa ser a cidade do artesanato e receber uma grande quantidade de turistas diariamente. Sobre a questão do urbanismo, ele comentou os investimentos que fez no seu mandato. “Fiquei dois anos sem calçar ruas, porque estava esperando pelo serviço da rede de esgotos, mas em 2011 precisei atacar e até o momento calcei 15 ruas, tendo ainda 33 ruas no orçamento de 2012. Por enquanto estou trabalhando as áreas periféricas”, explicou o administrador.     
       O artesanato, principal fonte de renda da cidade, é ignorado há muito tempo pelas administrações municipais. O pedetista Cláudio Resende condenou o fato de não haver um responsável pela cultura em Resende Costa. “As realizações partem de ações isoladas, de grupos isolados. Nada vinculado diretamente à administração pública”, afirmou. Já o prefeito se defendeu e argumento que não cabe somente à Prefeitura tomar as iniciativas. Segundo Adilson Resende, os responsáveis pelo artesanato devem fazer a sua parte, trabalhando em parceria com o Executivo.
       O jornalista André Eustáquio avaliou os investimentos a longo prazo. Para ele, é uma carência do município. “Falta isso. Parece que quando o prefeito assume, a mesmice do mandato parece tomar conta. A gente não percebe ações políticas importantes voltadas ao futuro”, criticou. Segundo Eustáquio, políticas públicas voltadas, por exemplo, para o turismo e artesanato são carências do campo político que precisam ser mais observadas pelos governantes. Outro problema, segundo ele, é em relação à zona rural de Resende Costa, pois são muitos povoados, existe um distrito. “A gente ouve muita gente insatisfeita - ‘Foram feitas muitas promessas e até agora nada se cumpriu’ - é um pouco do que a gente escuta por aqui”, destacou. Apesar disso, o jornalista não vê uma situação caótica na cidade, destacando que o município é um dos que mais cresce na região.

Eleições municipais de 2008

Candidatos à Prefeitura
Partido
Coligação
Número de votos
Adilson Resende
PT
-
2.366
Dr. Paulo
PSDB
-
2.114
Toninho Ribeiro
PMDB
PPS
1.419
Cláudio Resende
PDT
-
967

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