segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O cientista político e professor de Comunicação da UFJF, Paulo Roberto Figueira, faz uma análise dos resultados das eleições 2010 e diz o que espera do governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT)

Karen Abreu, Natasha Terra e Suellen Passarelli

O jornalista e cientista político Paulo Roberto Figueira, que é professor do curso de Mestrado em Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), faz uma análise sobre o resultado das eleições 2010. Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Figueira fez mestrado e doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário do Rio de Janeiro (Iuperj). Hoje, atua tanto na graduação como no mestrado em Comunicação Social da UFJF, onde desenvolve pesquisas sobre a interface comunicação e política.
Nesta entrevista, Figueira, além de fazer análise sobre as eleições 2010, faz previsões sobre o futuro governo da presidente eleita Dilma Rousseff (PT). Estabelece um diagnóstico sobre a conjuntura política e a disputa de poder que poderá ser estabelecida entre os partidos da frente de apoio à Dilma e o PT, principalmente o PMDB que já articula a formação de um bloco no Congresso de 202 deputados. Sobre a vitória da candidata do PT, o cientista político afirma que pode ser entendida como uma decisão do eleitorado pela continuidade da atual política governamental do país.

Como avalia o resultado das eleições de 2010 tanto para a Presidência da República como para os governos estaduais e o Congresso Nacional?
Paulo Roberto Figueira: Essas foram eleições marcadas pelo viés da continuidade - em termos nacionais, os partidos do governo tiveram vitória tanto para o Executivo quanto nas duas casas do Congresso. Processo similar - vitória do campo que ocupava os governos de estado - ocorreu na esmagadora maioria das unidades federativas. O fenômeno está muito provavelmente associado ao bom momento econômico e social do país, que produz um estímulo eleitoral à continuidade, mais do que à ruptura.

Dilma Rousseff (PT), por ter ampla maioria no Senado e na Câmara dos Deputados, terá mais tranquilidade para governar?
PF: O problema de Dilma será administrar o excesso de apoio (o que implica acomodar mais de 10 partidos no governo), e não com a escassez. A dificuldade de montagem do ministério, de modo a agradar a todos, é um indicativo disso. Administradas essas pressões, o governo conta com maioria folgada para aprovar suas mensagens nas duas casas do Congresso.

Como o senhor vê a vitória de Antônio Anastasia em Minas Gerais e a virada em relação a Hélio Costa? O PT em Minas está em crise?
PF: Além dessa tendência geral à continuidade, a vitória de Anastasia também se deu num ambiente de crise interna do PT (Patrus versus Pimentel) e, sobretudo, de pressão da direção nacional para não lançamento de candidatura própria e apoio a Hélio Costa. O acordo foi bom para Dilma, já que ajudou a consolidar o apoio nacional do PMDB, mas foi muito ruim para o PT, que tinha duas candidaturas mais competitivas do que a de Hélio Costa.

O Aécio Neves sai fortalecido e como um dos principais líderes da oposição. Pode ser visto como um dos candidatos mais fortes na disputa presidencial de 2010?
PF: Sim, mas não de modo automático. Alckmin teve também uma expressiva vitória em SP e não se pode esquecer que o PSDB é um partido cujo centro está lá.

O senhor acredita na volta de Lula em 2014 na disputa presidencial?
PF: Nessa altura, é prematuro afirmar qualquer coisa isso. Essa conversa vai depender do andamento do governo Dilma - se se insinuarem dificuldades de reeleição dela, talvez se considere a possibilidade de uma volta de Lula. Mas muitas variáveis, não antecipáveis agora, confluirão para esta decisão.

Como avalia a formação de um blocão de 202 deputados comandado pelo PMDB. É uma forma de pressionar a Dilma? Isso poderá criar problemas na governabilidade?
PF: É claramente para pressionar Dilma na composição do ministério, para garantir vantagens na discussão da presidência da Câmara e do Senado e para indicar que há, na base de apoio, um centro de viés conservador que não permitir que os segmentos mais à esquerda do governo imponham sua própria agenda sem negociações.

Como fica a oposição com a terceira derrota consecutiva? Qual o futuro do PSDB e dos Democratas, por exemplo?
PF: O PSDB só faz diminuir sua bancada de deputados federais desde 1998 (era quase 100 lá, são meros 53 hoje). O DEM vem sendo paulatinamente encolhido. Nesse cenário, as conversas sobre fusão indicam exatamente que a oposição precisa se repensar.

Na sua avaliação, quais os pontos positivos e negativos dos mandatos do presidente Lula?
PF: De positivo, certamente a herança da incorporação de milhões de brasileiros à classe média e a retirada de milhões de outros da situação de pobreza extrema - algo que se deu na confluência de políticas de transferência de renda, de aumento real do salário mínimo, de ampliação de investimentos públicos. De negativo, o não enfrentamento de questões candentes e relevantes, como a reforma política.

Quais os desafios para a presidente eleita Dilma Rousseff?
PF: Suceder, com sucesso, um presidente popularíssimo, sem ter o mesmo conjunto de habilidades políticas. E a premência de enfrentar a discussão de temas difíceis que não foram enfrentados por Lula.

Quanto à questão da mídia no Brasil, é possível esperar alguma mudança nos próximos anos?
PF: Desde 1989, uma parcela importante da grande mídia não tinha feito tão mau jornalismo numa campanha - negligenciou-se o contraditório, produziu-se uma cobertura enviesada, em alguns casos nem se escondeu a franca torcida por um dos lados. Inevitavelmente se discutirá, nos próximos anos, meios de impedir que concessões públicas de radiodifusão, por exemplo, sirvam a interesses políticos e econômicos sem que existam mecanismos de controle social.

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