quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Democratas perde representatividade com as eleições 2010 e prepara uma reestruturação para a disputa municipal de 2012

Carol Argamim Gouvêa, João Eurico Heyden Jr e Wanessa Fagundes

O Democratas, apesar de ter sido o quarto partido mais votado nas eleições, não saiu bem ao perder representatividade expressiva no Congresso Nacional. Em 2006, quando ainda era chamado de Partido da Frente Liberal (PFL), elegeu seis senadores, 65 deputados federais e 114 deputados estaduais e apenas um governador. Em 2010, com a mudança de sigla para Democratas, emplacou no pleito apenas dois senadores – José Agripino Maia (Rio Grande do Norte) e Demóstenes Torres (Goiás), 43 deputados federais e 74 deputados estaduais. Isso significa a perda de 22 nomes na Câmara dos Deputados e 40 nas assembleias legislativas. O resultado favorável foi a eleição de dois governadores – Rosalba Ciarlini, no Rio Grande do Norte, e Raimundo Colombo, em Santa Catarina.
Em função da perda de representatividade, alguns analistas anunciavam até mesmo o fim dos Democratas e a fusão com o PSDB ou PMDB. No entanto, o deputado Rodrigo Maia, presidente da sigla, declarou à imprensa que o partido pretende definir estratégias para lançar o maior número de candidatos a prefeitos e vereadores em 2012 e concorrer com nome próprio à Presidência da República em 2014, rompendo uma aliança histórica com o PSDB, que começou em 1994 com a eleição de Fernando Henrique Cardoso.  O presidente do DEM afirmou que o partido passará por uma reestruturação a partir dos resultados negativos das eleições de 2010 e reafirmar a sua posição de partido de centro-direita.
Entre os motivos da crise dos Democratas, está a derrota de nomes importantes do partido, como o do ex-prefeito do Rio, César Maia, que disputou o senado e saiu derrotado, assim como o ex-vice-presidente da Republica, Marco Maciel, em Pernambuco, que também não conseguiu uma vaga no Senado. Para agravar a situação do partido, a candidatura de Índio da Costa como vice-presidente de José Serra (PSDB) não emplacou e fez com que o partido ficasse novamente na ala de oposição ao governo petista.
Índio da Costa figurava como a maior promessa dos DEM, devido principalmente à sua juventude e por ter sido o relator da lei “Ficha Limpa”. Entretanto, o comportamento explosivo de Índio gerou certas dúvidas quanto a sua escolha como candidato, devido aos seus comentários descuidados e acusações graves sem provas – como no episódio em Agosto, ao declarar que o PT mantinha relações diretas com as FARC (Forças Armadas Revolucionárias de Colômbia).
João Victor Guedes, presidente da Juventude Democrata de Minas Gerais, Coordenador Nacional do Movimento Estudantil e da Federação Internacional de Juventudes Liberais, tem outra opinião sobre a escolha de Índio da Costa para candidato à vice-presidência. Segundo Guedes, foi uma decisão coerente com as mudanças que o partido tem sofrido: “Nosso vice-presidente Índio da Costa, bem como nossos demais líderes, souberam mostrar a nova cara do partido: jovem, idealista, batalhador e vitorioso. Essa nova cara foi responsável pela eleição de nossos parlamentares e governadores”, afirmou.
Para o presidente do partido em São João del-Rei, José Egídio de Carvalho), as declarações do Índio não influenciaram em nada o resultado eleitoral. Para ele, o que realmente influenciou na derrota foi a imposição do nome do candidato José Serra: “A construção de uma candidatura sólida passa necessariamente pela vontade da maioria, ressaltando sempre a escolha discutida, votada democraticamente”, justificou.

Democratas: o partido que surgiu para defender a ditadura passa por uma crise de identidade
Originário da base de apoio da Ditadura Militar, a ARENA, o partido já fez parte do Partido Democrático Social (PDS), nome que a antiga ARENA recebeu com a abertura democrática. Após uma racha no PDS, surgiu o Partido da Frente Liberal (PFL), que bem mais tarde daria origem aos Democratas (DEM).
Essa mudança constante de nomes e reestruturações no partido explica-se principalmente pelo desgaste constante que este vinha enfrentando. O PFL, por exemplo, ao longo dos anos construía em torno de si a imagem de um partido envelhecido, tradicionalista e ligado aos valores ditatoriais, o que diminuiu consideravelmente seu número de eleitores e sua representatividade. A sigla estava relacionada à política de coronelismo, principalmente, com líderes no Nordeste, como Antônio Carlos Magalhães na Bahia.
Em 2007, uma última reestruturação no partido deu origem aos Democratas. Essa mudança visava, principalmente, um rompimento com a imagem tradicionalista e antiquada do PFL, em uma tentativa de modernizar a cara do partido. Além disso, o partido apostou na conquista de jovens eleitores, criando a Juventude Democrata e tomando frente em movimentos estudantis.
Segundo Guedes, a Juventude Democrata possui um papel decisivo para a reestruturação do partido e seu andamento atual. “Durante estas eleições estivemos à frente da maior parte das campanhas bem sucedidas para o senado e para os governos estaduais de nosso partido e pela mobilização pró-Índio da Costa”, afirma Guedes. Além disso, os jovens também trabalham com ativismo na Internet e participam de movimentos estudantis: “Temos forte atuação no movimento estudantil, promovendo forte oposição às forças políticas que aparelham a União Nacional de Estudantes. E temos grande representatividade externa junto a Federação Internacional de Juventudes Liberais”, explicou.
Mas o resultado das eleições de 2010 em comparação com as de 2006 não parece confirmar as afirmações de João Victor Guedes. O presidente do partido em São João del-Rei, José Egídio de Carvalho, acredita que “O DEM está numa fase muito difícil já faz tempo. Desde que mudou a sigla de PFL para Democratas sinalizava-se tempos difíceis. Só que ninguém esperava que o desgaste fosse tão expressivo como vem sendo vivenciado”. Ele ainda explica que por mais que o partido tenha crescido em alguns setores, houve ainda perdas significativas, como, por exemplo, no Congresso. “Na minha opinião, temos que repensar no futuro do partido”, afirma.
Agora, o que resta aos DEM é novamente a oposição. Segundo José Egídio, a aliança com o PSDB será mantida, pois ambos terão um papel importante no Congresso Nacional. Segundo ele, os dois partidos são a principal oposição ao governo Lula, e com a Dilma não será diferente. Como forma de confirmar tal expectativa, José Egídio argumenta que “o recém eleito senador Aécio Neves (PSDB) deve assumir a liderança oposicionista no Congresso, e é sabido de todos que o ex-governador mineiro goza de um profundo respeito e admiração dentro do DEM”.
Para João Victor Guedes, a oposição do partido será forte e preocupada com o país. Segundo ele, o partido não está preocupado em apenas se opor ao PT, mas em trazer melhorias para o país: “Ser oposição não é ser contra o Governo, mas, ao contrário, a favor do país. Devemos fiscalizar, lutar por nossa ideias, mas nunca deixando de convergir nos consensos. A derrubada da CPMF, a intensa fiscalização sobre o caos aéreo, o trabalho na CPMI do Mensalão e o Ficha Limpa foram grandes mobilizações organizadas pelos Democratas”.

O partido no Campo das Vertentes 
Nas quinze cidades do Campo das Vertentes, o Democratas possui doze vereadores e um prefeito eleitos. Em São João del-Rei, faz parte da base aliada do prefeito Nivaldo José de Andrade (PMDB). “Além destes representantes eleitos, temos ainda filiados em algumas secretarias municipais e na militância jovem, onde posso destacar (os filiados) nas atividades do movimento estudantil universitário da UFSJ e no movimento secundarista”, adicionou João Victor Guedes.
Entretanto, para José Egídio, a representatividade na região, principalmente em São João del-Rei ainda é muito baixa. Ele afirma que a principal proposta do partido na cidade, para as próximas eleições, é justamente tentar se fortalecer elegendo vereadores e prefeito.

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