quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Partidos de extrema esquerda continuam nanicos nas eleições de 2010

Ana Gabriela Oliveira, Rafaella Dotta e Thayná Faria


            O Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) conseguiu um pequeno crescimento nas eleições de 2010, ao eleger dois senadores, Randolfe no Amapá e Marinor Brito no Pará, três deputados federais e três deputados estaduais. No entanto, é um número inexpressivo em termos de representatividade política. O candidato à Presidência pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, apesar de ter conseguido visibilidade, principalmente, nos debates televisivos, obteve 0,87% dos votos válidos, ou seja, nem 1% dos votos (percentual). Mesmo com a eleição de dois senadores, o PSOL saiu derrotado ao não conseguir garantir uma vaga no senado para Heloísa Helena, que já foi candidata à Presidência da República em 2006 obtendo 9% dos votos válidos, e comunicou recentemente seu afastamento da presidência do partido por “total falta de identidade com as posições adotadas” pelo mesmo.  
            Os partidos de extrema esquerda – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) e Partido da Causa Operária (PCO), apesar de ocuparem o Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral com seus candidatos à Presidência e aos governos de estado, não conseguiram nenhum êxito. Tanto PSTU quanto PCO não elegeram nenhum governador, nenhum senador, nem conquistaram vagas no Congresso Nacional e nas Assembléias Legislativas. Por isso, continuam classificados como “nanicos” e, se houver uma reforma política, podem, inclusive, desaparecer.

PSOL elege senadores, mas não ganha representatividade
O Partido Socialismo e Liberdade se constituiu após divergências entre parlamentares do PT que discordavam em relação à postura “conservadora” do partido e resolveram deixá-lo. A situação se realizou de fato a partir da Reforma da Previdência dos servidores públicos realizada no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra a vontade dos parlamentares. Após a expulsão, Heloísa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro do PT, se uniram e fundaram o PSOL em junho de 2004. Plínio de Arruda, um dos fundadores do PT também se uniu ao PSOL pouco depois em 2005, e em 2010 foi candidato à presidência pelo Partido.
O PSOL tem como tendências principais a defesa de uma ação popular socialista e tomada do poder. Sua representatividade no país ainda é relativamente pequena, mas sua visibilidade tem crescido cada vez mais nos últimos anos. Em virtude de mudanças ideológicas no PT, escândalos e denúncias de fraudes, ele tem recebido com freqüência novas adesões.
Em São João Del Rei, o PSOL conta com 25 filiados, mas nenhuma representação na Câmara Municipal da cidade.  O presidente do diretório local e também coordenador do Partido na região, João Bosco Lopes, reconhece a importância de se ter representantes atuando no cenário político local. Entretanto, afirma que não há possibilidade de abandonar sua visão política de mundo em prol da adesão a valores nos quais ele não acredita – valores capitalistas, que ele acredita ser significativo para as pessoas no momento de escolha de determinado candidato. Para João Bosco o importante é agir de acordo com seus valores. 
Sobre a viabilização das idéias socialistas defendidas pelo PSOL, João diz que entende as demandas do mundo moderno, mas acredita em uma “reeducação do ser humano”, para o que é de fato importante e necessário para se viver. Segundo ele o capitalismo “abocanha” bandeiras de esquerda e movimentos políticos de libertação genuínos. Ele cita como exemplos, o movimento gay e ecológico, que por vezes perdem seu caráter libertador aderindo a regras do capitalismo – isso relacionado, deixando bem claro, a qualquer tipo de incentivo ao consumo. João Bosco acredita no discurso compatível a ação. Por isso adota tal postura diante do sistema capitalista vigente. 
Em relação ao recente processo eleitoral onde Dilma Rousseff ascendeu à presidência da república, João Bosco afirma que a conquista da candidata foi algo melhor em comparação com uma possível vitória de José Serra. Porém o PT para os militantes do PSOL também é visto como um Partido de direita. Em São João Del Rei, o PSOL se dividiu entre o voto crítico em Dilma e anular.
Plínio de Arruda, presidente do diretório nacional do PSOL, foi severamente criticado por parte dos Partidos de esquerda PSTU e PCO, devido a sua participação nos debates televisivos. Sobre isso, João diz que infelizmente estas são as regras: Plínio teria sido obrigado a participar, visto que se negasse não aconteceria nenhum debate.

Formado por dissidentes do PT, Partido da Causa Operária (PCO) mantém postura radical de esquerda
Em 2002, o professor e jornalista Rui Pimenta lançou-se candidato à Presidência da República pela primeira vez, quando recebeu 0,045% dos votos. Em 2006, tentou se candidatar novamente, mas teve o seu nome impugnado por falhas na prestação de contas da eleição anterior. Fundado em 1996, o PCO, apesar da linha ideológica de esquerda bem definida, está na lista dos partidos nanicos, sem qualquer representatividade tanto no Executivo quanto no Legislativo. 
            O programa de governo do PCO para a Presidência revela a postura radical de esquerda. Os pontos que se destacavam eram “Por um salário mínimo de R$ 1.500,00”, “Que os patrões arquem com os custos da crise”, “Em defesa dos camelôs, perueiros e todos os desempregados”, “Não às demissões em massa: unir os empregados e desempregados e ocupar as fábricas”, “Não pagamento da dívida externa e interna”, “Cancelamento de todas as privatizações realizadas sem indenização aos aproveitadores, controle operário das empresas estatais”, “Expropriação dos bancos e de todo o grande capital nacional e estrangeiro.”, “Fim da repressão aos sem-terra, expropriação do latifúndio”, “Dissolução da PM e de todo o aparato repressivo. Direito da população a se armar. Substituição da polícia e do exército permanente e controlado pelo Estado por um sistema de milícias populares.” Com menos de um minuto no horário eleitoral, o PCO não conseguiu criar empatia com o eleitorado.
            Quanto à sua origem, o Partido da Causa Operária, cujo número da legenda é 29, surgiu da junção de militantes trotskistas que romperam relações com a Organização Socialista Internacional em 1978 e, posteriormente, em 1981, ingressaram no Partido dos Trabalhadores (PT), formando a corrente de esquerda mais radical deste partido, chamada “O Trabalho”, porém conhecida pelo nome de seu jornal: “Causa Operária”.
            O movimento estudantil desta corrente foi o primeiro grupo a levantar a expressão “Abaixo a Ditadura” publicamente. Este grupo se denominava Libelu – Liberdade e Luta, e participou ativamente da construção da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Movimentos que estão vivos ainda hoje.
            Desde a sua formação, a corrente Causa Operária entrava em conflito com os interesses gerais do PT, chegando a fazer manifestações contra a decisão geral de apoiar candidatos de outros partidos, que eles diziam ser burgueses. No segundo turno das eleições de 1990, a Causa Operária fez uma campanha com as palavras de ordem: “Sou PT, não voto em burguês.” e teve todos os seus militantes expulsos do Partido dos Trabalhadores em 1991.
            O PCO se considera um partido de organização dos trabalhadores da cidade e do campo, e, assim, mostra-se dedicado a questões agrárias e industriais. Mas, para que seus planos políticos sejam cumpridos, proclama a abolição do sistema capitalista. A contradição que existe é que, apesar de defender posições radicais e revolucionárias, o Partido da Causa Operária atua na legalidade e busca o poder por meio do sistema político vigente, que é alvo constante de suas críticas. O grande desafio da agremiação é sair da classificação de “nanico” e conseguir eleger representantes que possam colocar em ação as linhas programáticas do partido.
            O Partido da Causa Operária tem diretórios em poucos estados, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, mas, no site do partido, não existem dados sobre a organização da agremiação nem sobre o número de filiados no país. No campo das Vertentes, não existem diretórios do PCO. Por isso, não foi encontrada nenhuma liderança para ser entrevistada.
           
PSTU prega o fim do capitalismo e aposta na revolução contra a burguesia
Conhecido pelo jargão “Contra burguês, vote 16”, o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU) continua com uma representatividade inexpressiva no país. Não tem governadores, senadores, deputados, prefeitos ou vereadores com mandato. Sobrevive com um número reduzido de diretórios e filiados. No entanto, ao contrário dos partidos nanicos sem postura ideológica, as suas lideranças são engajadas no ideal de transformação radical das sociedades capitalistas.
Fundado em 1994 após ruptura com PT, o partido é contrário ao capitalismo e se declara “socialista revolucionário”. O PSTU explica, em texto intitulado Nossos Princípios, que pode ser acessado no site oficial do partido: “Somos socialistas revolucionários, porque não acreditamos que poderemos chegar um dia ao socialismo através das eleições. Só uma revolução social, feita pelas massas trabalhadoras, com o proletariado industrial como sujeito social, poderá derrotar o capitalismo, possibilitar a expropriação das grandes empresas capitalistas, e abrir o caminho para o socialismo a nível internacional.” O partido serve como uma “direção revolucionária”, condição indispensável para o principal objetivo proclamado do PSTU, o fim do capitalismo.
O programa do PSTU propõe o redirecionamento dos gastos públicos, de forma a priorizar o emprego, o salário, a moradia, a saúde e a reforma agrária. Defende o não pagamento da dívida externa e rompimento com o FMI, além de alteração na política de arrecadação do governo (quem ganha mais, paga mais impostos), congelamento de preços, salário mínimo do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos, que avalia o salário mínimo necessário em cerca de R$2000), estatização do sistema financeiro, expropriação das grandes empresas e reestatização das empresas privadas.
O partido também defende o investimento em “construções de base”, como casas populares, hospitais, escolas, estradas, meios de transportes públicos e portos. Quanto à reforma agrária, defende a estatização das terras sem indenização aos latifúndios.

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