segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Intelectuais e produtores culturais criticam gestão Nivaldo

Por Anna Júlia, Franklin Félix e Nayana Carvalho


Se o prefeito de São João del-Rei, Nivaldo de Andrade (PMDB), garante ter mais de 70% de aprovação da população da cidade e já declara uma possível reeleição, entre os intelectuais e produtores culturais da cidade, existem muitas críticas em relação a sua forma populista de governar o município. Os segmentos mais esclarecidos da cidade também apontam sérios problemas no setor cultural e na preservação do patrimônio histórico da cidade.

Em seu terceiro mandato à frente da Prefeitura, Nivaldo de Andrade se intitula o “prefeito do povo”. Deixa claro que detém o apoio popular – principalmente das classes sociais menos favorecidas e não descarta a ideia de reeleição em 2012. Na eleição de 2008, como candidato, enfatizou que iria trabalhar “pelos pobres” da cidade, garantindo isenção do pagamento de água e IPTU. O prefeito também tem uma política assistencialista e populista, com benefícios a pessoas de baixa renda, como funerária municipal, ambulância nos bairros, ônibus para Belo Horizonte, entre outras iniciativas que, segundo ele, garante à população “tudo de graça”.

Para os setores mais esclarecidos, como professores e intelectuais ligados à Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), a postura de Nivaldo é equivocada. Os projetos assistencialistas são vistos de forma bem crítica. Ao contrário de medidas populistas, eles defendem políticas públicas eficientes voltadas para a preservação do patrimônio histórico e cultural, como formas de alavancar o turismo na cidade e gerar renda.

O professor José Luiz de Oliveira, que é doutor em Filosofia na UFSJ, tem uma visão crítica sobre a gestão do atual governo municipal. Ele afirma que há uma mistura de estilos arquitetônicos, desorganização social, abandono às tradições e apatia entre prefeitura e universidade que marcam a atual situação da cidade. “Em relação à cultura ainda há muito o que se fazer em nossa cidade”, enfatiza.

De acordo com José Luiz de Oliveira, no que diz respeito ao patrimônio arquitetônico, percebe-se um descaso da prefeitura na preservação dos estilos históricos dos séculos XVIII e XIX. “Se você pega o patrimônio cultural entendendo arquitetura como cultura, se percebe claramente que não há essa preocupação e quando se asfalta no entorno, simplesmente mata a harmonia com esse tipo de arquitetura”, critica. Segundo o professor, quanto às tradições são-joanenses, principalmente religiosas, como a Semana Santa, nota-se a falta de interesse e participação do prefeito Nivaldo até mesmo em prestigiar os eventos e aproveitá-los para atrair o turismo, que gera renda, empregos, benefícios para o comércio em geral e visibilidade da cidade. O professor acredita que faltam políticas públicas decentes voltadas para a cultura, dignas de crédito, “pois o que se vê são ações muito tímidas e inexistentes”.

Falta de parceria entre Prefeitura e universidade
O professor ainda destaca que a UFSJ busca sempre interagir com a política da cidade, investindo na implantação de cotas, oferecendo “cursinhos” para pessoas carentes e proporcionado visibilidade com o Inverno Cultural, porém há certo distanciamento por parte da prefeitura com a universidade, não aceitando tal aproximação nem parcerias. Fazendo um paralelo entre cultura e política, o professor diz que seria muito importante elegermos políticos intelectualizados, mas isso não se consegue porque ainda falta uma educação política nas periferias, e São João del-Rei é uma cidade extremamente partidária – já que se sabe que famílias dominam a política do município, como exemplo a família Neves –, gerando paradoxalmente, fidelidade aos partidos dominantes e uma forte oposição. Ambos visam candidatos populares, não intelectualizados, a fim de garantir sua eleição.

Para o Pró-Reitor de Extensão da UFSJ, Marcos Vieira Silva, “São João del-Rei oferece uma possibilidade de acesso à cultura muito boa, principalmente pelas iniciativas da universidade, que tem uma tradição em eventos culturais já de muitos anos e de valorização na cidade, na região e em outros estados”. Ele diz que a universidade tem uma ótima relação com o secretário de cultura da cidade, Ralph Justino, mas faz uma ressalva de que o setor não recebe apoio nem investimento da prefeitura para proporcionar atividades culturais, até mesmo em parceria com a UFSJ. Marcos Vieira afirma que não existe um abismo entre a universidade, a prefeitura, a cidade e as entidades públicas, pois “há muita participação popular, de associações comunitárias em projetos de extensão e pesquisa e parcerias com várias escolas, porém ainda falta um maior envolvimento da prefeitura em criar novas parcerias e manter o que já existe”. O pró-reitor conclui que a não eleição de candidatos com bom nível de formação e intelectualizados se dá pelo fato de existir na cidade uma parcela significativa de pessoas com pouco acesso à educação e menos esclarecidas, que rejeitam todo tipo de mudança, por se sentirem inseguras para optar pelo novo.

Alzira Haddad, gestora cultural da empresa Atitude Cultural diz que “São João del-Rei pode se favelizar se prefeitura não se preocupar com a preservação principalmente arquitetônica da cidade”, permitindo construções inadequadas, ilegais que vão desde os morros, periferias até o centro histórico. Segundo ela, a poluição visual na qual a cidade se enquadra gera o afastamento de turistas, que repercute negativamente na economia, perdendo emprego e renda.  Haddad também admira o trabalho do secretário municipal de cultura, mas acredita que ele fica limitado por não receber da prefeitura os investimentos necessários.

Com olhar de cidadãos são-joanenses, tanto José Luiz quanto Marcos Vieira e Alzira Haddad acreditam que a principai falha da atual administração do prefeito Nivaldo de Andrade é o não cumprimento de um plano-diretor, dos estatutos, leis e medidas já existentes. Ambos vêem a premissa do prefeito de que “tudo é de graça” negativamente, pois o “de graça” nem sempre é de bem feito e de boa qualidade. Em comum a interpretação deles, os problemas que se desencadeiam e marcam tal administração são: a carência de uma melhor organização, a falta de preservação da história e de políticas públicas voltadas à cultura e a higienização da cidade.

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